domingo, 30 de maio de 2010

QUAL O PROBLEMA EM SE PEDIR MUITAS DESCULPAS?

Sou a pessoa mais suspeita para tentar responder a esta questão-título, mas vou tentar. Meu intuito inicial, inclusive, era começar este texto pedindo desculpas. Desculpas a dois grandes amigos que costumam me acompanhar em sessões de fim de semana, mas hoje eu precisava estar só. Soube que o primeiro filme como diretor do roteirista Guillermo Arriaga estava em exibição numa sala de cinema sergipano e quis ir só. Sozinho. Sabia que o filme era solidão e eu quis ver se simulando/sentido este sentimento, a identificação seria mais funcional. Para minha não-surpresa, a conclusão deste experimento coloca mais em pauta a qualidade inerente ao filme do que qualquer pretensão identificatória por parte do espectador. Quando um filme é bom, fisga quem aprecia coisas boas, não importa como ele esteja a se sentir. Mas... Desconfiava do Guillermo Arriaga e tinha razão em fazê-lo. Que seja explicitado o contexto:

Ainda no ônibus de ida para o ‘shopping center’, vi algo que nunca tinha visto: uma mendiga fazendo cocô em frente a um prostíbulo, em plenas três horas da tarde. Os demais passageiros ignoraram o fato, enquanto eu fiquei agoniado, tentando ver se ela limparia o cu ou não. O ônibus virou a esquina e a mendiga saiu de meu campo de visão, mas permaneci pensando nela até a sessão começar...

Antes de a sessão começar, enviei uma mensagem de celular propositalmente ininteligível a um menino bonito. No minuto imediatamente posterior, expliquei o porquê e pedi desculpas e quase pude visualizar a irritação do menino diante de mais este pedido de desculpas, o qüingentésimo desde que nos conhecemos. Mas precisava fazer isso. Senti-me culpado por não ser capaz de resistir ao instinto de declarar a minha culpa. O filme começou.

Lançado no Brasil como “Vidas que se Cruzam” (2008), este péssimo título estragava muitas das pretensas surpresas de um filme que, no original, chamava-se poeticamente algo como “A Planície Candente”. Centro da estória principal: um homem e uma mulher, ambos casados, morrem queimados, no interior de um ‘trailler’ em pleno deserto fronteiriço entre EUA e México. Seus filhos se apaixonam, a duras penas. Entremeadamente, a sul-africana Charlize Theron aparece em cena como uma ninfomaníaca infeliz, que trabalha num restaurante. Na cena em pauta, em que ela mostra seus seios a um homem que não fala inglês, ela busca sexo. Ela busca a ex-mulher de seu melhor amigo acidentado. Ela precisaria pedir desculpas nesse contexto. Elipse.

Ao final do filme, me senti traído, como se a tristeza planejada pelo diretor-roteirista fosse um engodo, que não funcionou necessariamente comigo, não obstante eu ter achado o filme deveras simpático, magnificamente fotografado e interpretado com louvor pelo corpo actancial. Aliás, um detalhe me intrigou: por mais que as regiões que serviram de cenário ao filme fossem desérticas, todos os personagens reclamam de frio o tempo inteiro. O botijão de gás que causa a morte do casal adúltero, inclusive, foi arranjado justamente porque a mulher desejava tomar banho quente em pleno deserto. Será que isso foi proposital? Pelo sim, pelo não, queria novamente pedir desculpas ao menino bonito do outro lado do telefone celular, mas talvez não fosse prudente. Comprei um vaso de 500 ml de azeite de oliva extra-virgem e tentarei me consolar a partir daí...

Wesley PC>

Um comentário:

Thiago Alves disse...

Estava com saudades do blog de vcs!Fazia tempo que naum entrva!

Abraço!