quarta-feira, 12 de maio de 2010

PARA ALÉM DO BAIRRISMO (“QUEIRA DIVIDIR O PESO PARA ALIVIAR”)

Na última segunda-feira, dediquei algumas horas a uma conversa com amigos, em que eu estive acocorado num bar em frente à UFS. Em meio á diversidade de assuntos – que iam desde os clichês psicanalíticos até as impossibilidades marxistas contemporâneas – uma das pessoas que estavam na mesa comigo retirou um CD autografado da artista patrícia Polayne de seu bornal. Coincidentemente, “O Circo Singular – As Canções de Exílio” (2009) é o álbum que mais ouço nas últimas semanas e, para minha surpresa, gostei muito. Tanto que sinto agora a necessidade de divulgar o prazer que o mesmo implantou em mim, mesmo que eu aparentemente possua amplas divergências com o contexto relacionado à vida pessoal da cantora – que pouco deve importar na apreciação de sua (boa) música. Tentarei fiar-me ao que realmente importa, portanto!

Das 12 faixas do álbum, creio que só ouvi oito, pois tenho a mania de ficar repetindo a faixa que mais gosto. Esta é a segunda, “Sapato Novo”, tão empolgante em seu protesto contra o fato de que “querem me fazer sorrir com o que vejo na televisão” que eu quase utilizo sua letra num artigo acadêmico que precisei redigir recentemente sobre um curta-metragem ambientalista. Como não consegui encontrar a integralidade da letra na Internet, deixei a apologia referencial para outra ocasião, que não tardará a vir, visto que, ínsito, fiquei encantado pela canção. Belíssima mesmo!

O que me leva às circunstâncias que me levaram a finalmente conhecer o disco: não obstante eu já ter presenciado diversas apresentações ao vivo da cantora e ser amigo íntimo de uma de suas produtoras, nunca tinha ouvido o disco. Lendo um texto triste no Fotolog de um amigo homossexual que havia posto fim a um romance duradouro e estava arrasado por causa disso, percebi que tal disco era um dos principais na recuperação de sua fossa. Conclusão: eu tinha que ouvir isto com urgência!

Descobri um ‘blog’ paulista que tecia demorados elogios ao disco em questão e encontrar lá um endereço onde podia encontrá-lo disponível para ‘download’. Primeiro pensamento: é contra-produtivo no plano do incentivo estatal baixar um disco de um artista local que é vendido a baixíssimos preços? Pensamento rápido: não esperei resposta, baixei e o ouvi imediatamente: muito bom! Tentei convencer alguns amigos a ouvi-lo também, mas estes demonstraram uma aversão inicial antes de fazê-lo, em virtude do que sabiam sobre a reputação ideológica da cantora. Contra-argumentei: ela como artista é muito interessante, merece ser escutada e divulgada!

No disco, desgostei de algumas canções mais lentas e pretensamente românticas e admito que fui demasiado concessivo em relação às fórmulas poéticas e circenses/modistas massivamente utilizadas pela cantora e compositora, mas, ainda assim, faixas como “Arrastada”, “Quintal Moderno” e “Rio Sim” me causam um brando e saudável êxtase auditivo, que só não é completo em “Aparelho de Memoriar” justamente por causa dos intentados virtuosismos instrumentais à la Jimi Hendrix, mas, insisto: as aliterações e rimas da cantora, bem como a descrição das novas configurações da compra de pitangas no interior de um automóvel, me fizeram sentir um estranho e prazenteiro orgulho em ser espectador sergipano de músicas contemporâneas ostensivamente sergipanas.

Wesley PC>

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