terça-feira, 18 de maio de 2010

NUNCA É TARDE PARA SER ETERNO!

Existem alguns filmes definitivos sobre morte que ficam cravados em nossa memória como sinônimos de eternidade artística. “Um Filme Para Nick” (1980, de Nicholas Ray & Wim Wenders) talvez seja o que mais anseio por ver, no sentido de que documenta frente à câmera a deterioração de um gênio hollywoodiano em razão de um câncer. “Sirius Remembered” (1959, de Stan Brakhage) era outro que eu desejava muito ver e, há pouco, tive a honra, depois de me benzer, temente de que as lembranças pessoais do falecimento de meu cãozinho Almodóvar viessem à tona. Se, no primeiro filme, o que está em voga é “o espetáculo da morte em ação” (conforme definição do editor alemão Peter Przygodda), no segundo, o que se destaca é a decomposição protestante, num libelo cine-pedagógico em prol da reeducação visual pós-primitva. Em ambos, porém, o efeito é o mesmo: a comoção da eternidade. E afirmo este mesmo sem ter tido a graça de ter visto o primeiro filme.

Pois bem, “Plano 9 do Espaço Sideral” (1959), obra-prima do injustiçado cineasta B norte-americano entra com louvor no rol deste tipo egrégio de filme. Seu diretor fora maltratado por anos como “o pior de todos os tempos” pela dita crítica especializada, mas sua argúcia para dignificar os retalhos de seus desejos fílmicos era genial, conforme se demonstra nesta brilhante peça cinematográfica, em que o falecido Bela Lugosi brilha como um velho viúvo lancinado pela depressão depois que sua esposa falece e, levado também ao perecimento carnal, é ressuscitado por alienígenas que pretendem, assim, destruir os seres humanos antes que estes dizimassem por completo o belo planeta em que vivem. O detalhe: quase tudo o que o ator é mostrado fazendo na diegese fílmica foi capturado num contexto personalíssimo, visto que o astro húngaro, relegado ao ostracismo depois de brilhar como o mais famoso vampiro do cinema, era amigo íntimo do diretor, que ficou ao seu lado até o momento derradeiro em que o vício soturno no consumo de morfina limou a sua sobrevivência. Quem viu a excelente biografia destes personagens realizada por Tim Burton, num passado recente e louvável, sente-se tentado a lacrimejar num filme comumente recebido por risos e escárnio. Fui um destes e me orgulho pessoalmente do fato!

Em verdade, este não era ainda o texto definitivo que queria destinar a este riquíssimo exemplar renegado da Sétima Arte, mas as boas intenções justificam a publicação precipitada. Sem querer estabelecer aqui um juízo de valor, há exemplos em que a Arte eterniza a Vida – e os três filmes aqui citados são demonstrações preciosas de como isto é eticamente gratificante para todos os envolvidos!

Wesley PC>

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