sábado, 29 de maio de 2010

EXISTE O DESSERVIÇO LEGITIMAMENTE ENCICLOPÉDICO?

Pelo que vi nos 27 minutos iniciais do filme “Botinada - A Origem do Punk no Brasil” (2006), do conhecido ex-apresentador independente de TV Gastão Moreira, a resposta infelizmente é SIM – e temo não parecer demasiado rabugento por isso, mas fiquei realmente decepcionado com o teor esvaziado das entrevistas que compõem o ponto nodal do documentário. Digo mais: o problema nem de longe está no fato dos integrantes de bandas canônicas como Cólera, Garotos Podres, Inocentes, Restos de Nada e Os Replicantes terem envelhecido ou coisa do gênero. Muito pelo contrário, alguns parecem ainda mais coerentes com o avançar da idade, mas há uma carência ideológica crassa nalguns depoimentos e, como era esperado (tanto que relutei um pouco até finalmente começar a ver este filme), me decepcionei bastante com o mesmo.

Gosto de muitas das bandas ali mostradas, conhecia um pouco do contexto abordado, mas sempre me mantive contrário a falsas polêmicas como qual teria sido a cidade-natal do movimento punk brasileiro (onde entra em vigor o dilema materialista da posse dos discos importados de bandas internacionais pioneiras do gênero) ou a posturas revoltosas embasadas no tédio ou no anti-conformismo provisório, associado a determinadas faixas etárias dos filhos de burgueses consolidados, que dispõem de capital aquisitivo suficiente para ouvirem coletâneas musicais raras antes de todo mundo, conforme se gaba o execrável João Gordo.

Para piorar ainda mais a minha situação (visto que eu percebia que estava a detestar um filme que uma parcela considerável de meus amigos com opiniões positivamente consolidadas amavam), o DVD de que dispunha estragou após os 27 minutos supracitados de exibição. Conclusão: estou aqui a baixar novamente o filme, ansioso para que o tempo restante de duração centre-se mais em apresentações ao vivo ou informações didáticas no sentido lato do termo e não se concentre demasiado nas palavras contraditórias de alguns artífices do movimento.

Enquanto espero o disco baixar, ouço e reouço o disco mostrado em fotografia, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (1987), verdadeira descoberta tardia em minha vida: até agora, estou impressionado no quanto as letras das canções são coerentes em relação ao discurso que opõe violência e diversão, estabelecendo esta segunda como uma alternativa válida para enfrentar a primeira. Genial mesmo!

Wesley PC>

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