quinta-feira, 13 de maio de 2010

DOS MOTIVOS SEMPRE RENOVADOS PARA SE OUVIR LEGIÃO URBANA (OU “SE A VIA-CRÚCIS VIROU CIRCO, ESTOU AQUI”) E TUDO O QUE ISTO IMPLICA...

Não é como se tudo começasse de novo, as coisas estão muito diferentes hoje em dia, mas, ao ligar o Orkut na noite de ontem, fiquei surpreso ao me flagrar concordando com aquelas adolescentes que reclamam que “um dia com 24 horas não é suficiente para realizar tudo aquilo que se necessita”. Estou enfrentando este tipo de crise: muitos livros para ler, muitas músicas para ouvir e sentir, muitos filmes para ver e comentar, muitos amigos para amar, “muito a fazer, tão pouco tempo”, como diria o célebre Curinga vivido por Jack Nicholson...

Neste exato momento, ouço “Conexão Amazônica”, faixa 02 do celebre álbum “Que País é Este” (iniciado em 1978, lançado em 1987), da banda Legião Urbana. Muitas foram as vezes em que citei esta banda descoberta tardiamente como lembretes do mal-estar romântico que me perseguia à época e, neste momento em particular, gostaria de dizer que, sim, a banda é boa e que , sem querer, eu estava a ouvir as faixas do álbum na ordem alfabética e não do modo como as mesmas forma lançadas. Interrompi a sessão, reorganizei as faixas e recomeço a audição do álbum, agora com a faixa-título de protesto substituindo a melancolia de “Angra dos Reis” na abertura. Porém, a faixa que mais me instiga é “Eu Sei”, justamente por eu discordar muito dela e, ao mesmo tempo, saber que, do jeito como está, a letra tem muito a ver comigo. Afinal de contas, sexo verbal faz – e muito! – o meu estilo.

Em verdade, conforme a fotografia acostada a esta postagem deixa entrever, meu intuito inicial enquanto escrevo este texto não era necessariamente falar (novamente) sobre Legião Urbana, banda que, como todos sabem, tenho problemas desde pequeno por causa de uma hipertrofia de violões na periferia em que vivi, que entrava em conflito com minha misantropia defensiva primeva. Porém, a quantidade de vezes que ouço um companheiro de trabalho cantarolar os refrões aqui contidos me entorpece, tanto quanto entorpece estratagemas banais (e sobrevivenciais) como atiçar sobremaneira as narinas durante o mecanicismo burocrático diuturno, a fim de que, assim, contrafações olfativas compensem o silêncio cada vez mais cruel (e involuntário) de outrem...

O que me leva de volta á fotografia: trata-se de um fotograma do filme “Mortos que Matam” (1964, de Ubaldo Ragona & Sidney Salkow), estranha translação nacional para o título “The Last Man on Earth”, adaptação do romance “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson, que daria origem a mais dois belos filmes pós-hecatombe virótica sobre solidão: “A Última Esperança da Terra” (1971, de Boris Sagal) e “Eu Sou a Lenda” (2007, de Francis Lawrence). Não vi ainda a primeira versão, ansiosamente aguardada desde que a gravei para mim nesta tarde de segunda-feira, mas sei, desde já, que me identificarei plenamente com a angústia do protagonista. Enquanto aguardo, cantarolo uma das canções compostas pelo Renato Russo:

“Sexo verbal não faz meu estilo
Palavras são erros e os erros são seus...
Não quero lembrar que eu erro também

Um dia pretendo tentar descobrir
Porque é mais forte quem sabe mentir
Não quero lembrar que eu minto também...”


Cantarolo!

Wesley PC>

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