segunda-feira, 26 de abril de 2010

REGRA #32: “APRECIE AS PEQUENAS COISAS DA VIDA” (OU DE COMO UMA EXIBIÇÃO APARENTEMENTE TOLA PODE SE TORNAR UM DOS MELHORES MOMENTOS DA VIDA DE ALGUÉM)

Era um horário de almoço como quase qualquer outro da semana, com a diferença de que eu havia programado desde ontem para ver “Zumbilândia” (2009, de Ruben Fleischer), filme de ‘terrir’ que havia chegado às minhas mãos através de um acidente de percurso de ‘pendrive’ alheio. Sabia que me divertiria muito com o filme, mas não suspeitava que encontraria nele algumas das piadas geracionais mais inteligentes desde que um filme do Judd Apatow comentado numa postagem anterior me ensinasse que mulheres grávidas não devem fumar ‘crack’ enquanto pulam de um trampolim (risos).

Nem bem se passaram 3 minutos de projeção e eu já estava gargalhando com a sagacidade crítica do filme, cara a filmes de zumbis, em que o protagonista interpretado por Jesse Eisenberg apresenta as regras básicas para enfrentar a convivência isolada num mundo que não mais merece os títulos nacionais atualmente conhecidos. Segundo ele, quando existem mais zumbis do que seres humanos no mundo, não faz sentido chamar este lugar de Nação. Por isso, é tudo Zumbilândia. Em seguida, ele afirma que pessoas gordas são mais suscetíveis a serem devoradas por zumbis. Motivos óbvios: a protuberância de carne e a dificuldade em fugir. Daí por diante, várias regras sobrevivenciais são apresentadas na tela, quase diegeticamente, interferindo diretamente no modo como os personagens utilizam os espaços que percorrem. Na extraordinária seqüência de créditos iniciais, percebemos o quanto estas regras são úteis não somente na sobrevivência vital propriamente dita, mas também na manutenção dos valores ideológicos que permitem que seres humanos se reconheçam como tais em sociedade.

Aos poucos, vamos conhecendo o protagonista: tímido, solitário (voluntariamente talvez) e repleto de fobias, ele confessa que já se sentia vivendo entre zumbis antes mesmo de que isto se concretizasse. Segundo ele, portanto, sua virgindade é mais do que justificada, no sentido de que interagia pouco (nem sempre tão voluntariamente) com outras pessoas, até que, num caso extremo, ele conhece um sarcástico assassino de zumbis mais uma dupla trapaceira de irmãs, sendo que ele se apaixona pela mais velha. Não preciso dizer que, até que o filme termine, piadas e situações hilariamente geniais são destiladas, quase todas de humor nigérrimo, mas nada que pode o ranço conservador/moralista do roteiro, que afinal conclui que “basta estar perto de alguém que se goste para se sentir em família”. Nada que corroa a magnificência referencial do filme, que chega ao cúmulo risório de assassinar o ator Bill Murray (interpretado pelo próprio Bill Murray) numa das cenas mais divertidas do ano passado!

O que fez esta sessão se tornar inesquecível? A genialidade surpreendente e muito, muito, muito engraçada do filme ‘per si’ não justifica isso? E se eu disser que, enquanto jorros imensos de sangue humano e de zumbi eram despejados na tela, eu comia jaca com suco de limão? E se alguma entidade religiosa superior conjugasse elementos do acaso (mais do que aqueles que fizeram com que o filme chegasse até mim numa cópia dublada) e mais pessoas vissem o filme, nesta dada sessão? Se me serve de consolo, a regra #32 do Columbus foi apreendida por mim faz tempo!

Wesley PC>

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