quinta-feira, 29 de abril de 2010

“QUANDO TU IRÁS TE CONVENCER DE QUE NADA É IMPOSSÍVEL EM MATÉRIA DE AMOR?” (OU O TESTE DO 16º EPISÓDIO)

Desde que um companheiro de trabalho tachou o seriado “Glee” como sendo um recurso televisivo de auto-ajuda, aumentei as minhas desconfianças comercias sobre ele. Desgostei do episódio-tributo anterior sobre Madonna, que desperdiçou boas situações dramáticas em prol da vendagem ‘pop’ do mesmo, mas voltei a confiar na funcionalidade enredística do seriado com o 16º episódio, de nome “Home” (“Lar”), dirigido por Paris Barclay, um afetadíssimo realizador de TV que dirigira o melhor episódio da série, a obra-prima “Cadeira de Rodas”, o nono, em que a canção frenético-depressiva “Dancing with Myself”, do Billy Idol, determina a tônica sobre vários amores simetricamente não-correspondidos na trama. Inesquecível!

Neste novo episódio, não é diferente: os amores progressiva e eternamente não-correspondidos se destacam no enredo: seja por parte do jovem homossexual que arruma um encontro entre seu pai viúvo e a mãe viúva de seu objeto de desejo somente para que os dois possam compartilhar o mesmo quarto, seja por parte da “profissional do fracasso” alcoólatra que aproveita o divórcio de um namorado de juventude para tentar reconquistá-lo ao som de canções comoventes de Bruce Springsteen e Burt Bacharach. E, no mesmo episódio, temos a redenção de uma líder de torcida que, engordando a passos largos em virtude de uma gravidez, entende a necessidade de pôr-se ao lado de uma jovem gorda que (não) tem problemas de aceitação com seu corpo. OK, o elemento consolador do seriado ficou ainda mais evidente do que antes, mas isto não redunda necessariamente em perda de qualidade dramática ou musical (muito pelo contrário, aliás, visto que os produtores da série agora estão revisitando clássicos do cancioneiro norte-americano). “Glee” é um seriado muito bem-vindo dentro da anomia midiática contemporânea!

O que é pitoresco dentro de minha aceitação qualitativa dos novos episódios do seriado é que, enquanto via a trama que comento superficialmente nesse texto a fim de não estragar o prazer de quem ainda não o viu, algo me fez evocar mentalmente um dos filmes basilares de meus 17 anos de idade: “Mazeppa – A Lenda de uma Paixão” (1993, de Bartabas), sobre a amizade passional entre um artista eqüestre circense e o pintor Theodore Géricault (1791-1824), obcecado pela representação de cavalos em seus quadros. A estesia extremada que o filme desencadeia, o rigor fotográfico, a qualidade das atuações e do roteiro e a entrega desenfreada dos personagens a um tipo de amor que dilacera, que estraçalha, que dilapida, mas ainda assim é válido, marcou o quartel final de minha adolescência e fez com que eu tivesse forças para hoje, 12 anos depois que eu vi este filme magnífico pela única vez, insistir que não preciso de reciprocidade para amar alguém. Nunca precisei e não tenciono precisar. Aceito o preço.

O que me traz de volta ao episódio: não por coincidência, este foi o jargão parafrástico que emulou quase todos os personagens, tanto a viúva outrora amargurada que diz ao filho que, pela primeira vez em muito tempo, alguém a retribui pelo que está sentindo, quanto a amante de um homem bem mais velho e casado que canta os mesmos versos que o jovem pederasta põe em cena: “Vez ou outra eu chamo seu nome/ E de repente sua face aparece/ Mas é só um jogo louco; quando termina, termina em lágrimas/ Querido, tenha coração – não deixe que um erro nos separe/ Eu não fui feita para viver na solidão/ Transforme essa casa em um lar” (versos traduzidos a partir da letra da canção “A House is Not a Home”, interpretada pela diva Dionne Warwick). É por descrições como esta que não me arrependo de ser apaixonado!

Wesley PC>

Um comentário:

. disse...

Não gosto de Glee e não entendo porque tem tanta gente viciada nesse seriado!