sábado, 17 de abril de 2010

OBRIGADO PELA CONTRAFAÇÃO!

Conheci o sexteto alemão Rammstein através de um inesquecível filme de David Lynch em que duas de suas primeiras canções estavam presentes na trilha sonora. Encantei-me de imediato com a violência passional de “Rammstein” e “Heirate Mich”, as referidas canções, nas quais podemos compreender o que o baixista Oliver Riedel quis dizer quando afirmou que “a língua alemã acomoda perfeitamente a música pesada, visto que, se o francês é alegadamente o idioma do amor, o alemão é o idioma do ódio”. Entretanto, o ódio supostamente extravasado pela banda – pioneira do que a imprensa costuma chamar de ‘Neue Deutsche Härte’ (‘nova rudeza teutônica’) – é, na verdade, permeado pelo sentimento inverso, pelo amor incondicional, conforme eu pude constatar quando loquei “Sehnsucht” (1997), segundo álbum de estúdio da banda, quando me decepcionei a princípio com a overdose eletrônica, mas logo me flagrei apaixonado pela singeleza potente da oitava faixa, “Klavier”.

Tudo isto decorreu antes que eu ingressasse na Universidade, onde o Rammstein é comumente descrito como um grupo industrial menos valorizado, indicado primordialmente para adolescentezinhos revoltados que não sabem como extravasar a raiva de paixões não engendradas. Entretanto, fui plenamente seduzido pelos acordes sublimes de “Mein Herz Brennt”, faixa inicial de “Mutter” (2001), mesmo admitindo que a banda é um tanto simplista em seus polemicismo modista, visto que mescla incitações de humor negro ao nazismo a hermafroditismo, sadomasoquismo e chauvinismo em suas apresentações ao vivo e videoclipes. Com todos os problemas industriais da banda, gosto muito das canções listadas neste texto e, ao contar uma delas no trabalho, fui presenteado com a discografia quase completa do Rammstein por um colega de atendimento, que me apresentou ao novo disco deles, “Liebe ist Für Alle Da” (2009, que significa ‘o amor é para todos’), do qual ouço agora, exatamente agora, a maravilhosa faixa 6, “Frühling in Paris”, que cita versos caros a Edith Piaf em seu refrão. Francês e alemão se amalgamam durante a canção, provando que a miscelânea entre amor e ódio é prenhe de sentido, conforme denunciado na extraordinária capa do disco.

Infelizmente para mim, as demais faixas do álbum parecem demasiado similares, indistintas, medianas, o que faz com que eu não tenha muito tesão para ouvir demoradamente o disco, mas repetir a sexta faixa é uma boa pedida para o instante atual, o que fiz enquanto redigia este texto, encantado pelos versos que, traduzidos, dizem algo como “eu não conhecia meu corpo/ A visão tão evitada/ Ela mostrou luz em mim/ Eu nunca me arrependi”. Lindo mesmo! Dedico este trecho da canção, portanto, aos desencadeadores humanos do processo pessoal de (re)conhecimento de meu corpo que agora ensejo, numa linha bastante diferente da contida na letra de "Pussy" (risos), que grita algo como: "se eu tu tens uma buceta e eu tenho um pau, por que a gente não faz algo rápido?". Comigo, o processo é bem diferente. Faço meus os versos germânicos abaixo:

“Ich kannte meinen körper nicht
Den anblick so gescheut
Sie hat ih nmir bei licht gezeigt
Ich hab es nciht bereut”


O amor é para todos?

Wesley PC>

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