Não obstante meus 412 principais problemas de inserção societal, fiquei um tanto famoso na universidade quando de minha primeira graduação em virtude de uma suposta “cigana” que baixava em mim nas festas e fazia com que eu dançasse e me comportasse de forma muito frenética e destacável. À medida que os anos foram passando e minha velhice proto-depressiva se intensificando, a “cigana” tornou-se mais reservada, aparecendo prioritariamente em eventos festivos mais reservados, em especial àqueles vinculados à Comunidade que dá nome a este ‘blog’. Na noite de ontem, porém, resolvi dar uma folga ao tom auto-depreciativo de minhas lamúrias confessionais e, a convite de amigos, aceitei conferir um evento musical que se desenrolava na UFS. A “cigana” queria trabalhar em público novamente. Resolvi dar uma chance noturna de sexta-feira à entidade e caminhamos todos em direção ao local do evento, brincando com as “inclinações homossexuais” que vemos criticadas na capa de um livro de auto-ajuda publicado pela editora da Canção Nova.
Lá chegando, deparamo-nos com uma banda que aparentemente estava passando o som. Mais de uma hora se passou e a banda parecia estar ainda passando o som. Percebemos com dificuldade, portanto, que o que parecia ser a passagem de som da banda era o efeito proposital de uma ‘jam session’, constantemente negada quando o vocalista da banda usava o microfone para anunciar que só estavam “enrolando enquanto o segundo guitarrista não chega”. Nome da banda: The Drunk Orchestra.
Com certa dificuldade, advinda de minha proposital disfunção fisionomista, percebi que conhecia o vocalista da referida banda. E pior: não estava gostando de sua postura de palco, o que parecia ser consensual em relação à maior parte do público. Problema 1: não somente eu conhecia o referido vocalista, como o acho uma pessoa simpaticíssima e inspirada. Problema 2: apesar de eu discordar do modo como a platéia estava se opondo à sua presença de palco, entendi o porquê de isto estar acontecendo. Motivo: ele (que não vou citar o nome, mas como intuo que ele comentará esta postagem, deixo ao mesmo a honra auto-nomeadora) não parecia, ao menos em meu entender de abstêmio, tão bêbado quanto o nome da banda requeria e, sendo assim, o que de interessava havia na proposta iconoclasta da banda redundava em piadas e chistes facilmente acessíveis em sua irritação defensiva por parte dos membros insatisfeitos da platéia que porventura estavam ali para assistirem às outras atrações da noite, popularescas no pior sentido do termo. O vocalista referiu-se a mim em dado momento da sua apresentação, mas eu não soube como reagir à lisonja: a “cigana” estava um pouco envergonhada em sua observação carinhosa de uma aplicação deficitária de princípios artísticos.
Conversando via Internet com o referido vocalista na manhã de hoje, antecipei muitas das críticas que tencionava redigir aqui acerca de sua apresentação de ontem, o que me deixa cauteloso em relação ao que eu poderia acrescentar neste texto mais geral, o que me leva a crer que comentários mais específicos sobre as insatisfações coletivas acerca da recepção do espetáculo da The Drunk Orchestra talvez sejam melhor cabíveis em respostas aos possíveis comentários ou em conversas pessoais com os integrantes (todos eles condizentes com os adjetivos elogiosos que destinei ao vocalista). Porém, algo deve ser acrescentado: com todos os problemas de execução, mas não necessariamente de proposta, a suposta orquestra bêbada causou certo ‘frisson’ na platéia composta por meus amigos em função de um verso reiterativo com os fonemas da palavra /reuel/ e com a iteração frasal “baixe as suas calças” no refrão de uma canção mais virtuosística no plano instrumental. Aliás, meus amigos gostaram muito dos incrementos instrumentais da banda, elogiaram-nos até, mas houveram problemas de compreensão objetiva do desempenho do vocalista, muito gracioso, muito simpático, muito doce, mas comicamente problemático na noite de ontem.
Acima de tudo, quero dizer que o espetáculo findou sendo muito interessante não somente para o avatar da “cigana” (que, conforme visto em foto, já havia sido estimulado antes mesmo de chegar ao local do evento, ainda quando saía de seu ambiente de trabalho), mas também para seu grupo de amigos, que dispuseram de um frenesi dançante enológico por agradáveis e prolongados minutos e de uma nova possibilidade discursiva acerca de como se pode produzir arte contestatória nos dias de hoje, em que tudo está banalizado, até mesmo (e/ou principalmente) o ato de “baixar as calças”. Será que tudo seria diferente com outro tipo de platéia (acima de tudo, numericamente menor)? Será que foi o público que não entendeu a banda ou a banda que não se fez “entender” pelo público? Pelo sim, pelo não, aviso ao vocalista tão citado nesse texto que ele é uma pessoa muito graciosa tanto para mim quanto para a “cigana”, que, antes de dormir, tomou novamente meu corpo e dedicou-lhe uma evocação masturbacional pré-onírica. Bom estar de volta aos palcos hedonistas da vida!
Wesley PC>
DOIS É DEMAIS EM ORLANDO (2024, de Rodrigo Van Der Put)
Há uma semana
14 comentários:
Gostei muito do texto. Bastante sincero e uma perspectiva interessante do que foi a Drunk Orchestra (Orquestra dos Bêbados). Não sei se diria que me sinto lisonjeado com a punheta antes de dormir... Mas, é a primeira vez que alguém declara ter se masturbado pensando em mim! Huahahaha!!!! No quesito sex appeal, a performance não foi deficitária não é mesmo? O fato de quase baixar as calças, deu asas à sua imaginação o que pode ter provocado uma sensação mais estimulante. Hehehe!!! O objetivo da apresentação era se divertir e acredito que seja consenso termos alcançado isso. Não estávamos preocupados em agradar as pessoas que ali compunham o local, apenas aqueles que porventura fiz algumas homenagens com o dedo indicador ou palavras vomitadas aleatoriamente. Foi uma jam de amigos para amigos. Quanto à minha performance, eu estava etilicamente alterado sim! Alguns minutos antes de subir ao palco, eu estava com a pressão baixa por decorrência do cigarro e havia bebido uma quantidade considerável de vinho e outras coisas misturadas. Estava até envergonhado com a possibilidade de vomitar durante a apresentação. Baixar as calças é redundância, mas quase baixar não! Huahahahahaha!!!!! Aliás, rendeu o verso "Eu quase baixei as calças"... Podemos fazer variadas leituras dentro de algo tão inocentemente proferido pela entidade que estava aos berros no palco. Huahahahaha!!!!! Eu não estava com raiva do público, pelo contrário... Achei que a recepção foi muito boa e eu queria que a coisa fosse desagradavelmente cômica... Atingi o meu objetivo. Talvez eu tenha ofendido o propósito dos meus camaradas em relação à isso, mas acredito que estávamos em uma espécie de amálgama artístico. Sou problemático sim e o que seria a arte se não o fosse. Tenho até medo de referir-me às coisas que fiz ontem como arte, mas acredito que o que sai de dentro de uma jam, um ambiente de improvisação, é pura arte em sua forma mais pura e sincera. Se não explorei esse lado com mais profundidade, foi por falta de um ambiente propício, com outras vibrações. Mas, não creio que foi o que aconteceu. Estava muito à vontade ali... Mas, foi suficientemente bom estar dividindo aquele momento com amigos, que subiram ao palco para cantar aquele lindo arrocha com a gente. Fiz questão de dizer que não era ironia, só para reforçar as nossas intenções quanto àquilo. Hehehehe!!!! Enfim... Deixarei de lado comentários desnecessários e superficiais em relação ao que aconteceu ali... Cumprimos com a nossa função! Os meninos tocaram muito bem e quanto à minha performance... Sou naturalmente controverso! O meu sarcasmo é carente de sutilezas, deixo isso para Levy Viana.
Muito obrigado por comparecer à nossa apresentação, foi realmente muito bonito te ver lá longe, sorrindo desajeitadamente enquanto eu falava coisas às quais não me recordo agora.
Igor Bacelar
"Finalmente saiu daquele ateliê abafado e claustrofóbico. Exposição de arte. Arte proveniente de sua cabeça, de suas mãos, dedos, dedicação e o caralho a quatro. Havia uma moldura em branco na parede. Ninguém entendeu nada. Estavam concentrados e a expressão deles era de pura sabedoria, os entendidos. Uma criança não hesitou em se pronunciar. As mãos de sua mãe guiadas pelo "bom-senso" não foram mais rápidas que a boca infante. E lá se foi aquela ousadia em disparada, aquela sinceridade inocente (inexperiente?) das crianças."O senhor se esqueceu de pintar esse quadro aqui." O artista baixou suas calças e cagou em suas próprias mãos. Jogou a merda toda naquela moldura em branco. Fedia."
(risos)
Foi muito proveitoso ter sorrido desajeitadamente mesmo (risos ajeitados agora) - se depender de outras performances conturbadas como esta, quem sabe a "cigana" não te dedica outras punhetas? (culpa do instante em que apontaste para onde se vendia cerveja levantando a perna! - KKKK)
Acho que os 45 comentários no seu Orkut de hoje, camarada Igor, já deixaram bastante explicados tudo o que achei do evento como um todo, não obstante ainda não explicarem de todo minhas insatisfações pessoais em relação ás variações complexas do estatuto da arte dita contemporânea como um todo, mas... a gente segue tentando!
E, sim, os meninos tocaram muito, muito bem (outro consenso!) e foi engraçado (para dizer o mínimo) ver tanta gente no palco.
E segue...
WPC>
Quando ao segundo comentário, a citação (auto?)literária sobre impacto e (má) compreensão alheia da própria arte, é bom ter cuidado: isto é faca de dois gumes! Lembrei, inclusive, de uma festa de pré-estréia de curta-metragem sergipano que compareci, quando eu e outro mijamos em copos de ponches e ficamos desfilando, esbarrando nos convidados burgueses, como se estivéssemos protestando. Será mesmo? Estar lá não seria o problema?
Que fiquem as interrogações construtivas para TODOS - eu à frente!
WPC>
A arte fede! Seja a mijo, a bosta, a tinta, a suor, a álcool, a incompreensão, a esperma (suspeito que deveria ter empregado crase. Maldita ignorância gramatical).
Finalizo minha participação nesse texto com os repetidos berros que foram pronunciados por uma dúzia de pessoas no espetáculo em questão na iminência de ser findado o mesmo: "Mais um, mais um, mais um".
não sabia dessa cigana, não é do meu tempo!
lol vivendo e aprendendo!
faltou energia no Le Viviana! kkkkkkkkkkk
mas as pessoas arranjaram um jeito do som continuar, lol
Não queria ser ransudo mas meu querido wesley, para um boom subjetivista, elocubrador aquilo foi uma amostra muito boaa da efemeridade dos nossos dias, o som que fizemos era sobretudo efêmero, fugidio, passageiro, espontaneo. É uma inversão daquilo que se pensa como musica, geralmente entendida simploriamente como musica pra cantar. Espero q pelomenos q tenhamos tocado a plateia de alguma forma, com a energia do escarro estetico. Muito obrigado pelos comentarios, creio q precisamos de mais espaços como esse, onde as portas da percepção estejam abertas. Ass: Reuel Astronauta.
Pois é, Américo, a "cigana" é mesmo de outro tempo... Ela estava guardadinha, mas aparece bem quando tu estás presente (kkkkk)
E, Reuel querido,respondei a teu comentário lá mesmo em teu Orkut. Mas friso aqui o pedido final: continuem instigando-nos. Confio nas pessoas que estavam naquele palco!
WPC>
Pessoas cuidado com as falácias, argumento circulares, não podem ser falseados, logo não servem. Quanta bobagem se fala em nome da arte, quanta justificativa tola, Cristo aonde vamos parar?
Pararemos no anonimato...
Teu comentário pseudo-interrogativo e pseudo-aconselhador foi mais do que sintomático neste sentido!
Mas, concordo contigo: cega de falácias!
WPC>
Foi o vocalista tão citado e inspirador para você, pessoa cigana, que me indicou o link para ter acesso a este descritivo sobre o evento que contou com a session de bêbados desorquestrados no palco de um episódio ufs.
Pessoalmente, tenho uma certa aproximidade com ele - o vocalista - que é suficiente para me dar o entendimento total do que foi essa sexta-feira de baixar calças, possíveis vômitos e afins... não estava presente por motivos óbvios para as minhas condições (tempo/momento). No entanto, a sua descrição excessivamente prolongada foi capaz de estampar em minha mente todo o momento no qual você pode presenciar, segundo o vocalista frequentemente bêbado disse, com sorrisos desajeitados na plateia. Não vou enumerar problemáticas encontradas (ou não) como você fez, mas gostaria apenas de sugerir que se você tiver mesmo oportunidade de acompanhar ocasiões como esta, meu caro, não hesite mesmo. E continue com tamanha inspiração. Não só você se beneficiará com isso, mas o universo que você pode atingir está intríseco no processo.
Raquel Passos
www.universoparalelouco.blogspot.com
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