terça-feira, 27 de abril de 2010

“ESTA NÃO É A MÚSICA QUE OS JORNALISTAS OUVEM QUANDO ESTÃO MENTINDO”...

Como surgem as coincidências? Por mero fruto do acaso póstumo reorganizador.

Pois bem, No começo da noite de ontem, um colega de trabalho cantou um verso musical que correlacionava a importância em se ter um carro e a inevitabilidade de se possuir testículos. Não reconheci de imediato a canção, mas associei de imediato a aparente vulgaridade genital da mesma a algum verso contestatório do cearense Falcão, ao que o meu interlocutor perguntou espantado: “tu nunca ouviste esta canção?! É uma bandinha ‘cult’ destas que o pessoal daqui gosta muito”. Tratava-se do Mundo Livre S/A, faixa 06 do álbum “Guentando a Ôia” (1996), para ser mais preciso: “Tentando Entender as Mulheres”. Em verdade, já havia ouvido este álbum, mas nunca prestado atenção suficiente às letras de suas canções. Resolvi fazê-lo na manhã de hoje, a fim de evitar novos espantos em relação a este colega de trabalho que tanto me agrada.

Pois bem, logo na faixa 01, “Free World”, cujos versos auto-referenciais gritam e repetem: “salve Zero Quatro/ salve a música”, lembrei de um momento cândido que desfrutei numa de minhas viagens a Recife, quando a família que me acolheu fez com que eu reconhecesse o vocalista da referida banda num dos álbuns de fotografias antigas das irmãs de minha amiga. Admitindo as diferenças gritantes de postura socialista entre o cotidiano daquelas pessoas e as letras protestantes de algumas das canções do disco, tachei algumas breves elucubrações demeritórias sobre os germes burgueses daqueles que mais se dizem favoráveis a levantes populares armados, conforme aqueles que são exaltados na faixa 04, “Desafiando Roma”, uma das mais executadas no mês de dezembro de 2009 em Gomorra. Enquanto ouvia a letra ratificando apologias às atividades militantes sandinistas e zapatistas, percebi que conheço mais informações sobre as revoltas argelinas e maoístas do que sobre o que acontece na América Central. E se eu disser que este foi justamente o tema de minha aula de Introdução ao Jornalismo na manhã de hoje, quando a professora repetiu a minha interrogação quase com as mesmas palavras, atribuindo a culpa desta defasagem informacional sobre o que acontece ao nosso redor ao poderio das agências de imprensa internacionais e afiliadas aos grandes detentores do poderio capitalista?

Voltando ao disco: sorri com a similaridade de efeitos entre a distribuição de psicotrópicos e aplicação de eletrochoques em “Destruindo a Camada de Ozônio”, curti os jogos discursivos constantes da letra de “A Música que os Loucos Ouvem (Chupando Balas)” e achei particularmente positiva as acusações contidas em “Computadores fazem Arte”, outra canção muito executada no final do ano passado em Gomorra:

“Computadores fazem arte
Artistas fazem dinheiro
Cientistas criam o novo
Artistas pegam carona
Pesquisadores avançam
Artistas levam a fama”


De resto, antes que eu ouvisse o restante do álbum, precisei desligar o reprodutor de MP4, a fim de prestar atenção à aula. Porém, reitero o que já disse noutra situação: gosto muito do Mundo Livre S/A, para além dos problemas eventuais que tive com as letras sobre mulherio e futebol em “Por Pouco” (2000). Salve Fred Zero Quatro!

Wesley PC>

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