sexta-feira, 9 de abril de 2010

DILEMA AMBIENTAL: “NÃO HÁ UMA SOLUÇÃO QUE NÃO GERE OUTRO PROBLEMA”!


Nunca escondi de ninguém que eu era um CDF, no sentido mais pejorativo do termo. Sou daqueles que, dada a discordância branda em relação ao que os professores estão falando, reclamo pouco, questiono-os de forma sempre complementar, visto que sei que pouco adianta lampejos de iconoclastia e revolta num sistema universitário derruído em sentido geral. Talvez isso seja culpa de minha sujeição burocrática gradual, conforme alguns me acusam, mas não só. Estou velho o suficiente para saber que existem momentos mais adequados para desperdiçar minhas energias, principalmente no plano institucional.

Pois bem, acabo de voltar de uma aula sobre acompanhamento midiático de temas ambientais e, confesso, estou perturbado. Fui pungido, em mais de uma circunstância, pelo talento da professora ambientalista, que possui aquilo que eu mais prego num ser humano: paixão. Por mais que ela se escore eventualmente em regras e formatações discursivas com as quais eu discordo (“ninguém é perfeito”, estou sendo obrigado a constatar), fiquei encantado hoje ao analisar a coerência de sua exposição de fatos em sala de aula, agravado pelo fato de a mesma estar emocionalmente afetada pelo que discutia, visto que morou e estudou boa parte de sua vida na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, que agora é um local de constantes notícias jornalísticas em razão da catástrofe ambiental humanamente provocada que se abateu sobre lá. Mal sabia eu, em minha recusa voluntária em não assistir a telejornais, que o que chamam de Morro do Bumba não é morro coisíssima nenhuma, mas sim um entulho de lixo sedimentado ao longo de vários anos. Mais cedo ou mais tarde, algo iria acontecer, mas... Não é sobre isso que quero falar. Deixemos que os outros falem, por enquanto!

Voltando ao que me pungiu na aula: enquanto a professora falava e os alunos interagiam veementemente, visto que são quase todos pré-concludentes, eu percebia que sabia muito, muito pouco sobre o assunto. Sobre quase todos os assuntos ali tratados, aliás. Não sei quais são as propostas de governo da ex-ministra Dilma Rousseff, não sei quais os bairros de Aracaju mais castigados por deficiências infra-estruturais de mapeamento geológico e tampouco saberia definir o impacto de siglas como PAC e IDH na minha vida imediata, mas estou disposto a reparar estes equívocos. As intervenções pertinentes, chistosas e protestantes de um colega de classe – que percebeu contradições comportamentais no ambientalismo da professora, quando esta se desviou violentamente de um inseto em ferrão que a perseguia – trouxeram à tona um questionamento orgulhoso: “será que eu devo mesmo me preocupar com tudo isso?”.Viver pretensamente à parte das estruturas organizacionais latas do capitalismo como eu desejo viver não é suficientemente válido? Não seria mais importante para mim saber quem dirigiu cada um dos segmentos do clássico animado “Fantasia” (1940) do que comparar partidos políticos em que não vou votar? Receio dizer para mim mesmo que a resposta a estas duas últimas questões é NÃO!

Pelo jeito, esta complementação de habilitação graduada fará bem mais por minha vida do que eu imaginava quando aceitei o reingresso na Universidade Federal de Sergipe como portador de diploma. Percebi que a nova geração de comunicólogos que se seguiu à minha é assaz antenada com causas sociais mais amplas e cuidadosa em relação aos mecanicismos formais da profissão de Jornalista. Será que eu conseguirei me enturmar? Será que isto afetará drasticamente minha vida pessoal? Será que terei êxito em mais esta formatura? Torço para que possa também responder SIM a estas questões, mas, confesso: cheguei ao trabalho trêmulo depois da qualidade reflexiva da aula. Com todos os exageros aos quais meus leitores já se acostumaram, estou trêmulo!

Wesley PC>

3 comentários:

Tiago de Oliveira disse...

> Quem ama sofre;
> Discutir o senso comum não significa fazer parte dele;
> Deixamos, com o passar dos anos, morrer nossa sensibilidade;
> Esperança não é uma palavra feia;
> A vida é complexa;
> O óbvio é invisível.

Amo-te guri. És especial (no melhor dos melhores sentidos da palavra).
Tiago.

Tiago. disse...

Ah... eu trocaria a palavra solução do título por problema.
bjo,
Tiago

Gomorra disse...

Eu também trocaria, mas a frase-título está entre aspas porque foi desse modo mesmo que ela foi pronunciada pela professora!

E o amor é mútuo, lógico.

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