terça-feira, 20 de abril de 2010

DA ARTE DE SE APAIXONAR PELAS DISCORDÂNCIAS...

Depois de uma conversa excruciante com um colega de trabalho, percebi que haviam dois pseudo-hippies vendendo bugigangas em frente à Universidade. Fiz de conta que procurava algo em meu caderno e passei correndo por frente a eles, visto que os mesmos costumam me assediar para vender produtos que, da forma como são comercializados, não me interessam conceitualmente. Dito e feito: eles gritaram por mim: “ei, velho!”. Como eu estava ouvindo música no fone de ouvido, fiz de conta que não ouvi seu chamado, ao que escutei a reclamação que o mesmo fez para seu colega: “deve ser viado!”. ‘Hippie’ homofóbico? Como este tipo é que eu não falo mesmo!

Pois bem, segui em frente em meu caminho e, ao chegar em casa, fiz uma anamnese dramática dos eventos e confissões diárias e algo me fez trazer à tona o problemático e divertido filme “O Exército dos Frutas” (2004), péssima tradução brasileira para “The Raspberry Reich”, filme sarcástico do homossexual canadense Bruce LaBruce.

Vi este filme faz um tempinho, mas o mesmo merece exaltação demorada por causa de suas críticas sardônicas aos militantes de fachada, que se servem de conceitos marxistas ou genéricos para militarem em causa própria. No roteiro, acompanhamos as atividades de uma célula anarcoterrorista que deturpa algumas leituras de Wilhelm Reich e prega que “a heterossexualidade é o ópio das massas” e, a fim de pregar esta máxima exacerbada, seqüestra o filho de um imponente banqueiro alemão que, após alguns dias de confinamento, cede à orgia pretendida pelo grupo. Principais problemas do filme: 1- ele leva a sério demais os erros teóricos difundidos pelo grupo; 2 – as cenas de sexo (em especial, as envolvendo homens penetrando homens) são muito demoradas e superando o pornográfico; e 3 – as contradições internas do roteiro e da produção alimentam preconceitos mais do que combatê-los, seja no que se refere à cena de mau gosto em que vegetarianos invadem uma hamburgueria ou na eleição protestante de artefatos variados (de Madonna à masturbação, passando pelo ‘hip hop’ corporativo e pelos sucrilhos) como contra-revolucionários. Fiquei com vontade de rever o filme para saber o que eu acharia dele depois da proveitosa conversa que tive hoje sobre a necessidade de algumas contradições, mas o apelo ultra-penetrativo do filme no que tange às cenas de sexo faz com que eu espere minha mãe dormir para realizar este intento (risos).

Por causa de todos estes problemas, acho o filme quase ruim, não obstante admitir que o mesmo é muito, mas muito divertido mesmo e, em mãos “erradas”, pode ser um poderoso instrumento político. Pena que não consegui encontrar legendas para o filme, senão eu achava um jeito de exibi-lo na universidade. Bem que aqueles ‘hippies’ comerciais mereciam uma sessão destas!

Wesley PC>

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