terça-feira, 9 de março de 2010

“QUANDO A PESSOA FICA SEM COMER, A DOENÇA VEM E CORRÓI A ALMA”...

Foi mais ou menos isso que uma vizinha falou quando viu minha mãe descer do carro de serviço da filha de minha cunhada mais velha na tarde de ontem, quando fui obrigado a deixar o trabalho para atender a um chamado emergencial: minha mãe está doente! Não doente como se eu estivesse com sinusite ou como se meu irmão mais velho estive com AIDS ou Hepatite C (suspeitas confirmadas em ambos os casos), mas doente crônica, violenta, aflita. Após mais de 10 horas divididas em duas visitas a um hospital público de qualidade (palavras dela), não se conseguiu chegar a um consenso se minha mãe sofreu um início de derrame, um ataque de pressão altíssima (19 X 9) ou algo pior. O fato é que ela está sentindo muita dor, não consegue comer há quase uma semana e eu estou preocupado: serei obrigado a limar o que resta de minha vida social a fim de fazê-la companhia, nem que seja na extrema situação dos “últimos dias”, caso uma moléstia ainda mais grave seja detectada. Por este motivo, não pude comparecer à festa de despedida de Débora Cruz no sábado. Por este motivo, meu telefone celular estará desligado quando eu não estiver no trabalho. Por este motivo, terei que cancelar todos os compromissos que não envolvam tratamento materno daqui por diante. Por este motivo, tentarei não espetacularizar o fato. Por este motivo, submeti-me a ver “Xuxa Popstar” (2000, de Paulo Sérgio de Almeida & Tizuka Yamazaki) na manhã de hoje. Ela quis!

Antes que o mau filme atingisse 20 minutos de projeção, e o malfadado grupo baiano É o Tchan me envergonhava ao executar uma ridícula canção sobre super-heróis seminus, indagava-me se esta abominação pseudo-cinematográfico-midiática iria piorar ou não a situação de minha mãe doente, mas ela sorria das besteiras de Xuxa Meneghel & Cia., ela torcia para que o medíocre vilão interpretado por Marcos Frota fosse desmascarado, ela zombava do homossexual ultra-afetado vivido por Luiz Salém, ela ignorava que o mundo da moda mostrado no filme jamais lhe seria acessível e fazia de conta que não retroalimentava todas as abominações ideológicas e preconceituosas disseminadas pelo filme. E eu estava ao lado dela, calado, desejando silenciosamente que seu corpo parasse de doer, mas... E a alma, meu Deus? E a alma?! Vale lembrar que o supracitado comentário de minha vizinha foi proferido ao perceber que Rosane de Castro está magra, enquanto conseqüência imediata de sua impossibilidade de comer. E eu estou desesperado, preocupado, imerso numa constelação de sentimentos que vão bem além da compaixão pela mulher que me pariu. “O que eu faço neste mundo?”, me pergunto agora.

Wesley PC>

Um comentário:

iaeeee disse...

Ela vai melhorar! Força!




américo