terça-feira, 12 de janeiro de 2010

PRIMEIRO GRANDE LUTO ARTÍSTICO DO ANO: ERIC ROHMER (1920-2010)

Não sou muito apegado à vida pessoal dos artistas, mas confesso que tomei um grande susto quando cheguei do trabalho nesta noite de segunda-feira e minha mãe me recebeu com uma notícia: “Wesley, morreu um cineasta francês hoje, tu soubeste? Ele já tinha mais de 82 anos!”. Quem seria? Pensei em Alain Resnais, mas um telefonema me confirmou que se tratava de Eric Rohmer, um dos cineastas favoritos de um grande amigo com herança japonesa, que me propiciou a mais bela e assustadora experiência com cogumelos alucinógenos e prole bem-aventurada de toda a minha vida. Morreu Eric Rohmer! Viveu Eric Rohmer!

Confesso que vi poucas de suas obras (infelizmente!) e tive problemas de recepção burguesa com “Conto de Inverno” (1992) e “A Inglesa e o Duque” (2001), mas, fora isso, encantei-me deveras com o amor reinante e a Filosofia onipresente em obras deliciosas como “Conto de Primavera” (1990), “Conto de Verão” (1996) ou “Conto de Outono” (1998), tão diferentes entre si e tão completos em sua utilização preciosa das estações do ano, dos sentimentos emulados por cada uma delas, da vida que pulsa sempre que duas ou mais pessoas estão cativas num mesmo ambiente... Eric Rohmer entendia a Graça e, não à toa, era um amante pascaliano desde os áureos tempos e, como tal, não é surpresa que sua obra-prima seja justamente uma apologia carnal a Blaise Pascal: “Minha Noite com Ela” (1969), um dos filmes de minha vida!

Infeliz de quem pense que os 110 minutos de “Minha Noite com Ela” sejam fáceis. Mais infeliz ainda quem não teve acesso a esta magnânima declaração de amor ao amor em si, metonimizado no encontro surpresa entre um engenheiro e uma médica, que dividem uma cama e um cobertor na noite nevada em que se conhecem. Ele é um jesuíta ativo e sonha em se casar com uma moça que vira de relance numa missa católica. Ela é divorciada e cética, mas está sempre de bom-humor, não obstante revele suas fraquezas à medida que o frio se instala no quarto em que ela dorme. Eles se amam por uma noite e se amarão por muito mais tempo, mas os descaminhos da vida cotidiana impedirão que a larga e agradável conversa que se estende por metade do filme se transforme numa relação amorosa duradoura. Pelo menos, no plano na comunhão temporal. Porém, todas aquelas palavras e instintos sexuais compartilhados serão eternos nas mentes dos personagens e de nós espectadores encantados. Morre um gênio, fica uma obra imortal!

Segue em paz, crente!

Wesley PC>

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