domingo, 17 de janeiro de 2010

“I AM BECAUSE WE ARE”?

O jargão anglofílico faz parte das tradições religiosas de Malauí, país africano que se tornou independente em 1964 e é considerado pelas estatísticas “o segundo mais pobre do mundo”. A interrogação faz parte de minha desconfiança pessoal quando vejo este jargão poderoso ser utilizado de forma forçosamente assistencialista no péssimo documentário “Sou Porque Somos” (2008), dirigido por Nathan Rissman e produzido, escrito, narrado e protagonizado por Madonna, que diz que “não pode comparar as próprias dores com o sofrimento de ninguém”, mas antecipa que sabe como é difícil viver sem pais, visto que sua mãe morrera quando ela tinha 6 anos de idade. Não obstante gostar muito dela enquanto artista, senti ali que o tom condescendente do filme me irritaria deveras. Imagens de miséria extrema, de crianças e mulheres grávidas morrendo de AIDS eram revezadas por belíssimas (e estéreis) fotografias em preto e branco de crianças que sorriem mesmo quando estão sorrindo. A narradora. Então, compara a felicidade aparente deles com a insatisfação humorística que permeia os moradores de zonas ricas como Beverly Hills e questiona quem estaria certo ou errado, dado que, segundo ela, os africanos são muito mais humanos que qualquer pessoa que ela tenha conhecido nos países de língua inglesa. Não me convenceu! Saí da sessão do filme irritado, furioso até, triste pelo modo como aqueles penitentes foram explorados pela péssima direção do filme, que chega a utilizar as estetizadas canções do Sigur Rós como pano de fundo para o realismo lancinante da miséria que reina no país cuja capital é Lilongwe e onde mendicantes usam o dinheiro que ganham dos transeuntes para comprar cerveja. Péssimo exemplo!

Wesley PC>

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