domingo, 13 de dezembro de 2009

O JOVEM STEPAN NERCESSIAN E O QUE SEI DA ALMA MASCULINA:


Há alguns meses, vi de supetão um filme chamado “Marcelo Zona Sul” (1970, de Xavier de Oliveira), desavisadamente exibido na TV Cultura. Fui hipnotizado pelo charme triste daquele filme lindo, daquele retrato precioso de época e adolescência, protagonizado por Stepan Nercessian, aos 17 anos de idade, lindo e desiludido. Na noite de ontem, enquanto zapeava os canais de TV, em busca de imagens e sons agradáveis que me fizessem companhia midiática enquanto eu ingeria a deliciosa sopa de legumes preparada por minha mãe, deparei-me com “André, a Cara e a Coragem” (1971), dirigido pelo mesmo Xavier de Oliveira, protagonizado pelo mesmo Stepan Nercessian (agora com 18 anos, mais ainda lindo e desiludido) e cerceado pelo mesmo desencanto adolescente do filme anterior. Fui novamente hipnotizado pelo charme triste!

Na trama, o protagonista André chega de uma cidade interiorana e se hospeda numa pensão. Divide quarto com um marinheiro, que viaja sempre para a Europa e o conforta com estórias de viagens e revistas de sacanagem importadas da Suécia. Quando fica sozinho, André vai a um bordel e realiza sexo mecânico, emitindo sobre sua virgindade. Tenta arranjar emprego, mas sempre comete erros e despedido, assaltado ou assediado por homossexuais e solteironas que tentam distrair a solidão pagando um gigolô. Mas nada parece confortar André, até que ele se apaixona por uma colega de trabalho numa lavanderia. São despedidos, ela engravida e (vou entregar o final), um novo ano chega. Porém, nada acaba. A falta de perspectivas de André permanece suspensa, enquanto pessoas comemoram a chegada do novo ano.

Filem lindo, visto sem pretensões, mas, desde já, eternizado como sendo um dos mais encantadores retratos de minha situação atual, não necessariamente triste ou derrotado, mas cônscio de que há algo mal no mundo, de que o capitalismo evoluiu ao paroxismo de sua alo-destruição e de que, por pior que eu aja de vez em quando, há quem esteja ao meu lado. Quem me dera encontrar um mocinho triste com a cara do Stepan Nercessian pós-adolescente por aqui...

Cada qual a seu modo, os dois filmes citados ajudaram-me a construir uma imagem bastante poética do adolescente periférico-padrão, do tipo de homem de vinte e poucos anos que tanto me atrai. Não obstante haver no filme uma cena bastante angustiante, em que André espanca o viado que tenta alisar seu pênis enquanto ele dormia, fiquei a seu lado até o final da projeção, sentia o que ele sentia, sabia o que ele achava que sabia... Na melhor cena do filme, aliás, André é intimado a provar as roupas que uma solteirona solitária e endinheirada lhe compra. Primeiro as camisas, depois as calças e, por fim, as cuecas. “Tire sua roupa aqui mesmo. Faz de conta que sou sua mãe”. Na hora H, a poucos segundos e milímetros do órgão sexual desejado do rapaz, a campainha toca e a câmera focaliza outra coisa. A sugestão, porém, estava lançada. Jamais aquelas imagens me sairão da cabeça! Por isso, advirto: “André, a Cara e a Coragem” (1971), de Xavier de Oliveira, é um título de filme a ser escrito com letras vermelhas no caderno de lembranças da vida.

Wesley PC>

2 comentários:

Unknown disse...

Pô, assisti esse filme um dia desse na TV Brasil, muito bom mesmo!

Já o "Marcelo, Zona Sul" faltou energia no dia que passou e só deu pra pegar o finalzinho.

Pseudokane3 disse...

Coisas da Tv aberta, né?
Oh, vida!
Ao invés do Liverpool, quem musica este segundo filme é o irmão do diretor, Denoy de Oliveira, mas o resultado é igualmente positivo.

E o Stepan Nercessian novinho é um gato, admitamos!

WPC>