quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O ESTRATAGEMA DO FALSO CONVITE – I:

Na tarde de anteontem, desci no terminal do Campus para esperar outro ônibus. Um vendedor de picolés que estava no mesmo veículo que eu desceu e foi abordado por alguém com uniforme de cobrador: “ei, tu tens algum picolé boiado para vender? Não? E aí, tu conheces Wesley?”. Aí, eu, pensando: “êtcha, caralho, será que este homem esquisito está falando de mim? Como pode ser?”. Era! O vendendo de picolés subiu noutro ônibus e o cobrador veio falar comigo: “Wesley, como tu estás? O que nadas fazendo da vida? Já te formaste? Vais pra onde? Tiveste um bom Natal? Tu cresceste, estás diferente, grandão... Mudaste muito!”. Logo deduzi que se tratava de alguém que estudou comigo nas primeiras séries do ensino fundamental. Relaxei um pouco e respondi mecanicamente a tudo o que ele me perguntava. Com forte acento pessimista, diga-se passagem.

Depois que ele foi embora, reanalisei a situação e o desconforto temido do encontro por um novo viés: estou diferente! Talvez não seja mais tão merecedor do ódio gratuito que meus inimigos de infância depositavam sobre mim. Creio ter reconhecido o cobrador: Tony, um daqueles que me espancavam sem razão e me tornavam um servo infantil do ódio. Sorri para ele, do meu jeito fugidio. Quando percebeu que eu estava com um VHS nas mãos, ele se adiantou em perguntar: “isto aí é um filme de sexo?”. Eu: “não. É um filme suicida. Quero sumir!”. O tempo passou e hoje estou ouvindo Caetano Veloso.

“Cinema Transcendental” (1979): é impressionante o quanto este álbum tem de leveza pré-homossexual. Vários elogios a homens e moços bonitos percorrem o disco, fazendo com que eu... Corroft! Segue trecho auto-explicativo da faixa 03:

“Moço lindo do Badauê
Beleza Pura!
Do Ilê-Aiê
Beleza Pura!
Dinheiro hié!
Beleza Pura!
Dinheiro não!...”

Wesley PC>

2 comentários:

Unknown disse...

Ainda gosto dos discos de Caetano dessa época.

Oxe! Por que o cara vai perguntar ao vendedor de picolé se te conhece?

Pseudokane3 disse...

E tu vens perguntar para mim? Eu ainda estou apavorado com o susto? (risos), mas era algo cortês, tipo: elogio velado. Fui infame na minha época de guri. Todo mundo sabia quem eu era (risos)

E esse disco em particular é muito bom, suave, admirado, elogiando homens e mais homens, muito bom!

WPC>