sábado, 5 de dezembro de 2009

“O BRASIL VAI PARAR!”, GRITA MEU IRMÃO


Ontem, no trabalho, o assunto era somente esse: a tal decisão futebolística que ocorrerá amanhã, domingo, dia 6 de dezembro de 2009. Não sei direito do que se trata (por detestar futebol), mas, ouvindo as informações que meu irmão caçula não pára de gritar, parece que o time carioca com a suposta “maior torcida do Brasil” está 2 pontos a frente de todos os outros concorrentes no Campeonato Brasileiro (é isso?) e é o mais forte candidato a conquistar o título deste ano. A empolgação nos dois lugares em que mais gasto tempo de minha vida é ensurdecedora. No ímpeto por respeitar as paixões alheias, hoje dediquei-me a baixar várias versões de hino em prol do referido time para o rebento flamenguista de minha mãe, de maneira que, já imagino, amanhã não se ouvirá outro assunto na mídia, amanhã serei refém de minha própria tolerância respeitosa às citadas paixões de outrem...

Não somente eu nunca entendi como as pessoas mergulham violentamente nesta paixão pelo futebol (sempre fui tomado por uma inveja inevitável quando passo diante de crianças semi-alfabetizadas que conhecem todos os detalhes nomenclaturais e históricos de seu time de coração), como tenho um trauma patológico de infância relacionado ao tema: como é sabido de todos, só fui dispor de uma televisão em casa após os 13 anos de idade. Como tal, era obrigado a ver filmes e/ou demais programas televisivos que me interessavam em casas de terceiros, sujeito a conversas que atrapalhavam a minha concentração e a moléstias sexuais não necessariamente desejadas. Num dia muito específico de 1994, “O Poderoso Chefão” (1972), clássico absoluto de Francis Ford Coppola que eu não tinha visto até então, ia ser exibido na Rede Globo. Na Rede Bandeirantes, a final de um jogo do Flamengo contra outro time. O filme não estava sendo visto em nenhuma casa vizinha, que eu conhecesse. O jogo era ouvido e gritado em todos os locais da vizinhança. Custava o meu irmão ir ver o jogo num bar ou outro lugar, acompanhado de seus amigos, conforme sempre fazia? Como a situação de seu time era delicada, ele não o fez, até que o time estivesse com vantagem irreversível. Conclusão: meu filme já era!

Lembro que, neste dia, eu e meu irmão tivemos a maior briga de nossas histórias. Odiei-o fortemente neste dia, bem como irritei-me com minha mãe condescendente, que permitiu que ele levasse a melhor. Rolamos no chão, socando-nos mutuamente, até que apanhei de duas pessoas ao mesmo tempo (minha mãe, afinal, tomou a defesa de meu irmão). Quem ia querer ver um precioso exemplar da sétima Arte, com quase 3 horas de duração, naquele momento? Naquele dia, conheci a infelicidade e a derrota. E o pior: sabia que elas iriam ter volta!

E agora ouço:
“O Flamengo em primeiro lugar
A razão do meu viver
O Flamengo me faz delirar
E o Maracanã tremer”

(“Hino Camisa 12 do Mengão” - Dominguinhos do Estácio)


Wesley PC>

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