sábado, 24 de outubro de 2009

“PRA QUÊ QUE EU FUI PASSAR NISSO? EU NÃO SEI DE NADA!”

Esta foi uma pseudo-reclamação bastante recorrente que meus olhos e ouvidos viram e ouviram várias vezes na tarde de hoje, em Poço Redondo, distante 184 quilômetros de Aracaju, quiçá uma das cidades mais quentes do Estado de Sergipe, na qual eu fui fiscal de uma prova de Matemática financiada pelo Governo Federal, que visa a premiar os melhores alunos provenientes de escolas públicas. Não cabe mais a mim perder tempo falando obviamente mal do Governo (cansei disso!). Ao invés, prefiro transmitir aqui um choque: como é precária a situação da educação pública em alguns lugares!

Para além de 412.000 exemplos possíveis, fixar-me-ei nesta fotografia: conforme disse, o município é muito quente. O clima é o semi-árido e o local está localizado na região batizada como sertão. Ao chegar na escola, entrei em contato com uma funcionária local, responsável pela limpeza, que me disse que havia pedido para que suas auxiliares varressem as salas no dia anterior. As salas estavam empanturradas de lixo! Lixo mesmo!

Todas as paredes riscadas de cima até embaixo, não havia torneiras nos banheiros, merda petrificada jazia numa das privadas, de cada quatro ventiladores de teto, um funcionava, outro estava deformado e os outros dois estavam ausentes... Como pode o moral dos alunos deste local estar em alta? Ou melhor: em média? Os meninos não pararam de tagarelar durante a prova (“é que a gente é assim, moço!”) e, quanto mais eu admoestava-os, eles retrucavam: “este fiscal não é nada ‘mara’”! O que mais eu poderia fazer?

Terminados os 45 minutos para a permissão de saída das primeiras pessoas que tivessem terminado a prova, quase 17 pessoas entregaram as mesmas praticamente em branco. “Poço Redondo vai fazer todo mundo passar vergonha”, disse-me uma das meninas, enquanto um mocinho de 17 anos perguntou se eu “curtia” ‘rock’ na saída, pois alegou que eu “tinha cara de quem curtia”. Fiquei pensando na frase supostamente socrática que estava em meu crachá, que dizia que conhecimento que deve ser preservado é somente aquele que é importante. Qual conhecimento não é importante? Como funciona a apreensão do conhecimento para aquelas pessoas tão necessitadas? Fiquei condoído, me sentindo impotente. Apesar de tudo, os alunos eram graciosos e gentis. Teimosos, mas sempre receptivos. Tive medo. Tive medo. O que são os filmes espanhóis contemporâneos de terror perto daquilo?!

Detalhes: o questionamento auto-reclamante que intitula esta postagem diz respeito ao “tormento” que foi ter passado pela primeira fase de classificações referentes à prova e a menina que a proferiu teve seu nome (MAIUGA) grafado errado na lista de presença. Faltou uma letra. Quando eu tirei a foto, uma de suas amigas falastronas se empolgou: “êtcha, moço, esta foto vai para o ‘Jornal Hoje’, é? Fotografe mesmo. Só assim denuncia a nossa situação”. Reticências dramáticas.

Wesley PC>

2 comentários:

Marcos Otsuka disse...

vc sabe o q é algo inacreditável? q impossibilita comentários? é a escola pública amigo. :|

Gomorra disse...

Bingo!