domingo, 4 de outubro de 2009

PARA QUE O DOMINGO NÃO SEJA PERDIDO POR COMPLETO...

Desde quando eu me iludia com o mundo por não trabalhar ainda, detestava o domingo. Odiava aquele dia concessivo em que todas as pessoas ao meu redor achavam que tinham direito de se divertir. Detestava tanto que, mesmo fazendo parte agora do rol que depende deste dia para folgar, não consigo superar o trauma: domingo rima com impotência para mim!

A fim de lidar um pouquinho melhor com este trauma diário, decidi que não sairia de casa aos domingos e tiraria boa parte das 24 horas deste dia para tirar o atraso dos inúmeros VHS que gravo durante os demais seis dias. No dia de hoje, porém, fui tomado por duas demoradas quedas de energia elétrica. Tive que realizar outros compromissos emergenciais, dada a indefinida supressão energética. Conclusão: em dado momento de minha tarde, estive a dormir.

Ao acordar, depois de mais um típico pesadelo sexual sobre abandono de parceiros, vi um docudrama sul-africano no mínimo curioso em sua perspectiva histórica enviesada: “No Futebol, Nasce uma Esperança” (2007, de Junaid Ahmed). A história (real) fala sobre um grupo de adolescentes que foram presos por motivos políticos na década de 1960. Enviados à Ilha de Robben, onde Nelson Mandela estava preso, eles reivindicam o direito de jogar futebol aos fins de semana, quando obtinham folga do trabalho forçado numa pedreira e podiam reler as edições dos livros de Karl Marx disponíveis na prisão. Em pouco tempo, levando-se em consideração todo o condicionamento burocrático socialista de que dispunham, formam uma organização futebolística no interior do cárcere, que chama a atenção dos guardas preconceituosos e instaura a competitividade e a legislação interna entre as grades oceânicas da prisão insular. Os personagens reais da saga comentam os fatos, enquanto atores representam suas ações do passado. A cena final é uma imagem documental em que o verdadeiro Nelson Mandela segura a taça da Copa do Mundo, em Zurique, Suíça, após o anúncio do País em que vive como sede dos jogos programados para 2010. mais três câmeras mostravam pessoas comemorando em outras cidades da África do Sul. O que isso representa politicamente? Creio que não disponha de argumentos suficientes para responder.

Pronto. Um filme parco de um País não necessariamente consagrado enquanto produtor cinematográfico havia salvo o meu domingo de um imaginário desperdício de tempo, em virtude da ocorrência cada vez mais repetitiva das quedas de energia elétrica! Fiquei irritado (ou enfadado, melhor dizendo) com a progressiva sujeição do roteiro do filme ao esquematismo burocrático atribuído aos comunistas, de maneira que a trama do filme deixa de ser narrativa ou rememorativa lá pelos 50 minutos de projeção para se tornar uma prancheta administrativa forçada, em que hierarquia e fidedignidade aos princípios da FIFA eram defendidas. Não gosto de futebol. Não gosto da competitividade atrelada ao esporte, que foi justamente a arma de que os presos políticos se serviram para conseguirem o respeito dos guardas e certa visibilidade mundial. Talvez eu esteja cada vez mais descolado deste mundo. Talvez...

Wesley PC>

Nenhum comentário: