domingo, 18 de outubro de 2009

A-DIFERENÇA

Num filme dentro do filme, um soldado carrega outro nas costas, visando a livrá-lo da morte certa num incêndio advindo de um bombardeio. Agradecido, o soldado que está sendo carregado diz: “eu te amo”. O soldado que o salva pergunta: “como se fosse um irmão ou de outro jeito?”. “De outro jeito”, responde o carregado. “Que outro jeito: como se fosse um primo?”. “Não, de outro jeito!”. E as perguntas e respostas seguem por muito tempo. Até que se perceba que o que está tentando ser dito sempre esteve óbvio para eles...

A situação acima descrita é apenas uma ‘gag’ metalingüística do filme “Será que Ele É?” (1997), obra de Frank Oz que acabo de rever. Lembro que achei-o apenas simpático da primeira vez que o vi, mas, ao analisar os germes iconoclastas na obra deste divertido hollywoodiano, como o filme me pareceu melhor desta segunda vez!

Para quem não sabe do que se trata: “Será que Ele É?” é um filmezinho aparentemente bobo sobre um professor de Literatura Inglesa (Kevin Kline) em cidadezinha do interior que vê sua vida transformar-se num caos quando um de seus ex-alunos (Matt Dillon) recebe um Oscar de Melhor Ator por interpretar o soldado ‘gay’ no trecho acima descrito e agradece a ele, insinuando que o mesmo seria homossexual. Com casamento marcado para três dias depois daquela data e contando com uma excelente reputação na cidadela em que vive, o próprio professor não sabe se é homossexual ou não. Passa a ser assediado pela imprensa, questionado pela noiva e a sofrer o preconceito de seus vizinhos, alunos e amigos. Tudo muda por causa de uma declaração íntima. Por quê?

Revendo o filme agora, percebo o quanto ele foi invasivo em relação a um tema ainda considerado tabu pela indústria cultural de massa. Até beijo na boca entre dois homens o filme possui (graças á surpreendente e ótima participação de Tom Selleck), por mais que o final do filme seja conciliador em excesso, não deixa de ser belo imaginar o quanto ele foi importante quando foi lançado e o quanto ainda é hoje, para além da simples diversão a que é atrelado!

Minha mãe sentou-se na sala e ficou um tanto incomodada com o filme, visto que ele cria aquelas situações incomodas em que ela se sente tentada a perguntar sobre minha sexualidade estranha. Ela via uma cena, ria, levantava, chupava uma laranja, voltava, saía de novo, mas afinal se rendeu ao filme. Eu, por minha vez, ficava rememorando os insultos de infância e imaginando por que era tão ruim para aquelas pessoas que me insultavam ou apedrejavam gostar de alguém do mesmo sexo. Era só isso que eu requeria á época e, puxa, como elas me tratavam mal! Apanhei tanto no colégio por causa desse tipo de suspeitas, que só pioravam com o fato de um ter uma voz muito, muito fina. Será que os tempos mudaram? A reação de alguns vizinhos e familiares a algumas das fotos que publico em meu Orkut provam que não... O que há de errado em amar, oh, Deus?!

Wesley PC>

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