sábado, 19 de setembro de 2009

A OBVIEDADE DE QUEM SE ENTREGA, A SUBMISSÃO DE QUEM AMA...


Ao realizar “Angel” (2007), o diretor francês François Ozon foi criticado por parte de seus fãs fundamentalistas e superficiais. Seja porque a trama é aparentemente heterossexual, seja porque o filme é falado em inglês, seja porque ele realizou um insuspeito trabalho de época. Confesso que eu me deixei levar por alguns destes comentários preconceituosos e, à época, hesitei em ver o tal filme, quando ele foi exibido nos cinemas de meu Estado. No domingo passado, porém, acordei com as exclamações de minha mãe, diante da sessão, quando ele estava sendo exibido na TV. Gravei-o e o assisti na manhã de hoje, enquanto preparava uma sobremesa de morangos com leite condensado. Precisarei do doce rosado: o filme é lindo, pseudo-(ir)realista e triste!

Basicamente, sobre o que é o filme: a protagonista Angel (vivida pela iluminada e surpreendentemente vulgarizada Romola Garai) é uma moça pobre, que vive com a mãe, no pavilhão superior de uma mercearia. É destratada na escola em que estuda, por sonhar em demasia com a vida aristocrática. Escreve sem parar, de maneira que consegue um editor, que se espanta com a sua pouca idade no que diz respeito à descrição acurada e ousada dos “fatos da vida”. Torna-se famosa, ganha muitos fãs, desperta a paixão de uma tímida aprendiza de poetisa, que se torna sua secretária, e fica encantada pelo irmão pintor desta última, mas ele é severo, ele é amargurado, ele é um suicida em potencial, ele não consegue amá-la, ele a fará feliz e a fará sofrer... Basta para recomendá-lo!

Sem querer estragar a surpresa de ninguém, queria descrever aqui duas cenas que me tocaram particularmente: na primeira, o marido de uma mulher abraça-a na cama e esta reclama que há um cachorro no quarto, sugerindo que ele o retire do ambiente. A resposta: “cachorros estão mais do que acostumados aos fatos da vida”. Anos depois, numa era pós-bélica, este mesmo homem estupra a sua própria esposa. Ela está desencantada com a (falta de) sucesso e ele está bêbado, sem uma das pernas e amando outra pessoa. Agarra-a com força, aos prantos, até que uma mulher apaixonada salva a sua amada graças à bengala dele. Vi-me nesta cena, em mais de um personagem...

Acho que é hora de parar de escrever, sob pena de forçar mais a similaridade identitária com a protagonista do filme, mas, suplico-vos: vejam este filme – e saibam que eu existo!

Wesley PC>

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