quarta-feira, 8 de julho de 2009

A (I)MORTALIDADE DA ARTE


Por mais que demonstre sua genialidade incontinente e seu senso fantástico de economia a cada filme, Roger Corman ainda é um cineasta muito subestimado. Por mais que ele tenha sido responsável por alavancar as carreiras de personalidades idiossincráticas e rebeldes como Jack Nicholson, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg, entre outros, sua própria carreira é secundarizada pelos esnobes exegetas de cinema. Por este motivo, eu nunca havia sequer ouvido falar de “Balde de Sangue” (1959), uma de suas magníficas obras-primas, à qual fui apresentado (teoricamente) no mês passado por um grande irmão ideológico. Hoje eu finalmente vi o filme. Absolutamente genial!

O que eu sabia da trama era o básico: um garçom de restaurante ‘beatnik’ deseja fazer tanto sucesso artístico quanto os boçais freqüentadores do local, mas é solenemente ignorado por eles. Até que, ao esfaquear por engano um gato preso na parede, cobre-o de argila, a fim de que sua idosa dona não o encontre, e transforma-o numa escultura. Ganha alguns admiradores, entre eles uma apaixonada mulher, que o presenteia com um potinho de heroína. Ao perceber esta transação, um policial disfarçado vai até a casa do garçom transformado em escultor e o ameaça de prisão. Um assassinato é cometido e uma nova escultura ultra-realista é apresentada aos freqüentadores do bar. As relações ambíguas entre a Arte e o conceito de (i)mortalidade será então trazida à tona. O desfecho do filme é tão previsível quanto magnânimo. Espero que aquele não seja o meu destino (risos), mas, se o for, o aceito desde já. Morrer pela Arte me parece um destino válido!

Mas vamos ao registro de um grande momento, este na foto: a bela modelo loira de costas protesta contra a ascensão artística do garçom. Ainda assim, aceita em posar nua por dinheiro. Ele a enforca com uma echarpe de luxo, cobre-a de argila e expõe como uma escultura de nudez. Desde o começo, Roger Corman rompe com convenções hollywoodianas: os personagens são todos autênticos marginais, a música é diegetizada ao máximo, o roteiro é sarcástico e crítico. Amei o filme. Preciso divulgá-lo. Em breve, numa sessão qualquer em Gomorra...

Wesley PC>

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