domingo, 26 de julho de 2009

“EU GOSTO MESMO É DE VIDA REAL”/ QUEM MANDOU A GENTE NASCER?



No início da madrugada, eu e mais quatro amigos aventuramo-nos por um Jogo da Verdade, no qual muita roupa suja foi lavada. Em dado momento, a única mulher entre nós sugeriu que víssemos um curta-metragem dirigido por um professor de roteiro. O filme em pauta chamava-se “Os Sapatos de Aristeu” (2008) e seu intricado e dramático roteiro mostrava os preparativos do funeral de um travesti recém-falecido. Sua irmã despreza-o por ele “ter sujado o sobrenome de seu pai”, sua mãe tenta perdoá-lo, mas dilacera o seu corpo e, do lado de fora, prostitutas e transviados insistem para participar da cerimônia de despedida. Belíssimo tratamento do tema. Ficamos todos emocionados!

Como nossa amiga conhecia pessoalmente o diretor do filme, ela teceu alguns comentários pessoais e elogiosos sobre o moço, que se auto-definia como “um ex-gordo”. Um outro amigo, que já havia visto René Guerra pessoalmente disse que ele era extremamente afetado. “Se nós, que somos do jeito que somos, já sofremos, imagina uma bicha gorda e afetada”, foi a conclusão de um terceiro amigo. Fiquei pensativo.

Horas antes de eu ouvir o comentário acima, estive comprando pizzas num ‘shopping center’ de Aracaju, ao lado dos mesmos quatro amigos frenéticos. Ríamos bastante, gargalhávamos no ponto de ônibus! De repente, enquanto conversávamos, fomos surpreendidos pelo ‘flash’ de uma câmera de celular. Dois meninos enfiaram-se no meio de nossa conversa e fotografaram dois amigos, que estavam muito próximos. “Vamos lá, outra, outra, mais de perto!”, convocava o zombeteiro menino. Meus amigos trocaram um beijo cínico, no meio da rua (eram 22h10’). Fiquei apreensivo. Um bando ostensivamente homofóbico de 8 meninos nos observavam furiosos, mas se limitaram a comentar: “isso mesmo, mostrem quem vocês são!”. E subiram no ônibus, chamando uns aos outros de bichas. Fiquei atônito, tentando ignorar o fato, mas tem coisas que ficam em nossa mente...

Dormi, acordei. No ônibus de volta para casa, um grupo de homofóbicos interioranos explicava como fizeram para jogar fora, numa festa, um copo descartável que fora tocado pelos lábios por um homossexual: “joguei fora aquela pôrra, velho. Quando eu vi aquele batom, que nojo!”. Eu me encolhia num canto, ouvindo Juanes, lembrando de Rafael Maurício, que não me dá mais sinais de vida. Desci assustado, pois tive que abrir espaço entre eles. Estava com uma camisa vermelha! Perdi uma caneta, eles encontraram. Mal menor. Lendo algumas inscrições que estavam no terminalzinho do Campus, descobri esta lição de vida: “fume um cigarro e não serás um fumante; beba um copo de cerveja e não serás um alcoólatra; dê o rabo e serás um viado para sempre”. Quem mandou eu nascer?

"Sonho morrer de velho e não de solidão"!


Wesley PC>

7 comentários:

Coelho Santana disse...

Que história!
Mas vindo de Werly, fico com a pulga atrás da orelha.
Ainda assim,mesmo não sendo nada novo, acredito que deve sentir muito medo nesses momentos. Mas, se serve de consolo amado irmão, como disse no texto acima, lembre "...que a algum no mundo pensando emti..."
Saudades
Coelho

Coelho Santana disse...

Ratificando:
"...alguém me lê e se preocupa comigo..."

Anônimo disse...

"Sua irmã despreza-o por ele “ter sujado o sobrenome de seu pai”, sua mãe tenta perdoá-lo, mas dilacera o seu corpo e, do lado de fora, prostitutas e transviados insistem para participar da cerimônia de despedida."

Filme forte. Só tá vendo coisa boa amigo!

Anônimo disse...

Rafael Barba

Pseudokane3 disse...

Eu NÃO minto, Coelhinho (risos)
E, nesse caso específico, sequer "aumentei". Pode confirmar com o restante do pessoal...

WPC>

Pseudokane3 disse...

E, evidentemente, muito me consola saber da preocupação de meus amigos amados!

E, sim, deu medo... E dá ainda, visto que este tipo de comportamento preconceituoso só cresce, e cresce e cresce...

Mas eu estrebucho!

Morrerei lutando!

WPC>

Pseudokane3 disse...

Pergunto, curioso: por que "a pulga atrás da orelha"?

WPC>