terça-feira, 28 de julho de 2009

CALMA, CALMA, EU POSSO EXPLICAR!


Epígrafe schopenhaueriana: “para ler o bom, uma condição é não ler o ruim: porque a vida é curta e o tempo e a energia escassos” . Assim diz o filósofo Arthur Schopenhauer, numa sessão do livro “Panerga e Paralipomena”, chamada “Sobre Livros e Leitura”. No referido livro, ele critica uma tendência que, se já era preocupante em 1845, quando o livro foi publicado, imagina hoje: a predominância no gosto das pessoas por obras medíocres e numericamente disseminadas que, sob o pretexto da novidade fugidia (negada pela subsunção extrema a fórmulas de escritura), priva os leitores das verdadeiras obras-primas da produção humana. Ele falava especificamente sobre a Literatura, mas podemos estender hoje sua crítica a todas as áreas do conhecimento humano, infelizmente!


E por que, dentre zilhões de outras possibilidades demonstrativas, escolhi “Xuxa e os Duendes” (2001, de Paulo Sérgio de Almeida e & Rogério Gomes) como exemplo cavalar desta tendência? Explico: vi este filme numa sessão de cinema, por absoluta falta de opção. Paguei apenas R$ 1,00 pelo ingresso e havia apenas mais três pessoas na sessão, duas crianças e uma senhora. Em dado momento do filme, a personagem Kyra pede que, quem acreditasse em duendes, batesse palmas, a fim de salvar uma dada entidade enferma. Somente uma das três pessoas presentes à sala não atendeu ao chamado da personagem. Fiquei chocado comigo mesmo ao não odiar de todo o filme (que, sim, é horrendo, não se enganem!) e, defendendo a necessidade de entrar em contato também com o que não presta, se quisesse ser um bom crítico, acabei discutindo com várias pessoas por causa do filme. Criticava quem falava mal sem tê-lo visto (mesmo sendo óbvia a sua decrepitude estilística) e defendia um mínimo de fidelidade narrativa ainda contido na obra. Será que estive errado?


Pelo sim, pelo não, não me arrependi do que fiz. Confesso até que o filme tem algumas (pouquíssimas) cenas interessantes e que os astros televisivos estão adequadíssimos aos seus personagens. Mas seria bem melhor se este tipo de abominação não existisse. Como existem, não sei bem como me portar criticamente em relação a elas. Ignorar? Falar mal sempre e morrer estrebuchando? Desloco uma citação schopenhaueriana, a fim de obter minha resposta: “mesmo os escritos de um espírito medíocre podem ser instrutivos, dignos de leitura e agradáveis, precisamente porque são a sua quintessência, o resultado, o fruto de todos os seus pensamentos e estudos; - enquanto a convivência com ele não consegue nos satisfazer”. A luta continua!

Utilizei este texto no meu Fotolog, mas resolvi republicá-lo aqui em virtude da crise conceitual a que o filófoso citado me lançou, mas, advirto: não tenho a mínima coragem ou intenção de ver a continuãção deste filme!


Wesley PC>

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