domingo, 10 de maio de 2009

A REFLEXÃO PROIBIDA


(OU DA IMITAÇÃO NÃO-CONSENTIDA DE PROTO-CIÚME QUE UM HOMOSSEXUAL RIDÍCULO PODE SENTIR QUANTO SE APAIXONA POR UM HETEROSSEXUAL BONITO E MUITO BEM-RELACIONADO)

Nota de esclarecimento inicial: apesar de este texto abordar problemas, sentimentos e reflexões legitimamente verdadeiros, os mesmos serão abordados através da via ficcional, a fim de não prejudicar sobremaneira nenhum dos envolvidos, incluindo-se as costas destes que são mostrados na fotografia de cunho ilustrativo.

Vamos lá, como começar? Confessando, antes de tudo, que tudo o que será aqui escrito parte de um incômodo prototípico, de algo não sentido anteriormente com tal intensidade (não obstante tantas vezes anunciado), de algo que não é bom, mas que se repetirá e, na melhor das hipóteses, de algo com que aqueles que sentem precisam se acostumar.

Vamos aos personagens de nossa anedota: um mocinho mais velho passeia pelo mundo observando cores que ele não sabe o nome, “cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo, cores”... Sempre teve preferência destacada por uma dada cor, mas um moreno de outro Estado aparece diante dele e, ao conversar, ao externar suas opiniões singulares, torna-se infinitamente mais belo do que fora numa primeira impressão. Torna-se um semideus, torna-se um super-humano, torna-se um bálsamo terreno, torna-se o objeto quintessencial de sua afeição. Porém, por mais dócil e generoso que este moreno seja, ele tem outras preocupações e desejos. Por mais agradável que ele tente se demonstrar, ele também possui sentimentos e necessidades e limites. O mocinho mais velho e apaixonado tenta entender. Secundariza a sua paixão, põe outro no lugar (igualmente moreno, mas extremamente violento) e segue em frente, oscilando entre estes dois gigantescos pólos passionais. “De quem ele gosta mais?”, perguntam alguns. “Quem disse que se pode mensurar o amor?”, respondem outros.

Em meio a esta confusão e certeza de sentimentos, o moço mais velho e apaixonado sabia que, mais cedo ou mais tarde, iria se deparar com o momento em que o moreno objeto de sua extrema afeição talvez estivesse e/ou se demonstrasse interessado e/ou apaixonado por alguém. Ele tem um pouco de medo deste momento, mas espera que ele chegue logo, a fim de que ele possa lidar com isto. Porém, não é ciúme que ele sente. É receio severo de que ele seja privado das carícias leves (porém salvaguardadoras) a que está acostumado. “Será que uma futura namorada me deixaria abraçá-lo de vez em quando?”, sonha temeroso o mocinho mais velho, que, ao antecipar um pouco deste assunto com um amigo com quem conversa na Internet (e que enfrenta um problema semelhante no plano da bi-heterossexualidade), escuta o seguinte (des)consolo: “o problema, caro amigo, não é se sentimos ou não ciúme, mas sim se a pessoa que amamos é ou não recíproca”. “O mundo é injusto”, pensou o mocinho mais velho ao trazer à mente a conclusão tragicamente romântica de um belo filme do sul-coreano Kim Jee-Woon. “É um mundo injusto!”, repetiu. “Longe de mim esperar qualquer tipo de reciprocidade”, disse ao lacrimejar timidamente.

Numa noite qualquer de sexta-feira, ele demonstrara-se tão extenuado do trabalho burocrático que executa que preferiu observar à distância o ser humano objeto de sua afeição. Contemplava os seus traços físicos, relembrava a sua voz, admirava o modo transparente com que ele se relacionava com as pessoas ao seu redor, dentre estas uma garotinha lasciva com quem fora deixado sozinho. E, se a jovem em questão aqui é tachada de “lasciva”, tal julgamento (não demeritório, diga-se de passagem) advém da companhia freqüente entre esta e dois homossexuais afetados (de comportamento potencialmente promíscuo) com quem se locomovia na referida festa. “Ela tem o direito de dar em cima deste belo exemplar de ser humano”, pensava o mocinho mais velho, que, da mesma forma, torcia para que o ser amado reagisse à atenção da moça, visto que “ele também precisa foder um pouquinho, ora bolas!”. Preocupava-se, temia, mas torcia. Não dizem por aí que “quando estamos apaixonados, desejamos somente o bem da pessoa amada, mesmo que não seja ao nosso lado”?

Seja como for, o moreno objeto da atenção do mocinho mais velho não fizera mais do que brincar com seus dedos e falar ao ouvido da jovenzinha excitada, gestos estes, diga-se de passagem, que nunca foram negados ao suposto proto-ciumento deste texto, salvo em situações de desconforto psicológico extremo, como a proximidade da visita a um setor burocrático estatal, como um banco ou uma secretaria de segurança pública. “Talvez ainda haja um pouco de justiça reservado para mim neste mundo”, pensou o jovenzinho apaixonado, que, dentre outras coisas, é um militante teísta.

E é isso: esta é apenas uma reflexão inicial que, façamos de conta, é de cunho anedótico. Nem sempre podemos ter controle do que sentimos, mas nada como tentar entendâ-los, quando estes ameaçam se manifestar e nos apavoram, ao imaginarmo-nos como traidor da confiança alheia. É por isso que aproveito a fotografia ilustrativa para brincar de conhecedor das canções interpretadas pela cantora que seduz tantas lésbicas brasileiras com sua voz grave e acentuada, Zélia Duncan: “muitas perguntas que afundas de respostas não afastam minhas dúvidas. Me afogo longe de mim, não me salvo, porque não me acho, não me acalmo, porque não me vejo, percebo até, mas desaconselho”...


“Espero a chuva cair
Na minha casa, no meu rosto
Nas minhas costas largas”


E chove lá fora, a vida continua! Faz de conta que eu não pensei nada...

Wesley PC>

7 comentários:

. disse...

~hum... então o mistério do moço mais velho e apaixonado era esse.
mil borboletas pra fazer carinho no coração.

=*

Pseudokane3 disse...

Não era bem esse não...

Esta reflexão é posterior (risos)

Eu estava bem, mocinha...

Era cansaço mesmo, acho...
Readaptação, sei lá...

Mas vale enquanto "mistério": senti muita vergonha de mim mesmo depois disso!

WPC>

Rafael Maurício disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Maurício disse...

oh Wesley, por mais que eu tente, vc num deixa né
supondo que eu deva
"nada vê,nada a vê"
dxe pra sentir ciúme depois

Pseudokane3 disse...

Por mais que tu tentes o quê, seu moço? Juro que não entendi (semi-risos), mas deixe quieto... Quem mandou eu me precipitar? Quem mandou?

Mas, como disse antes, foi tudo ficcional, faz de conta que eu não pensei nada... Foi tudo ilustrativo, foi mais uma coisa tipo O EXTERMINADOR DO FUTURO 2 - O JULGAMENTO FINAL, na cena em que a Sarah Connor vê um futuro negro diante dela e, somente a partir daí é que ela começa a valorizar o presnete, sabe? E quase aceita um abraço do filho, que, até então, ela só via como guerreiro... Não como humano que sente!

WPC>

Pseudokane3 disse...

Depois... quando? (risos)

WPC>

Pseudokane3 disse...

Recapitulando: "o moço mais velho e apaixonado sabia que, mais cedo ou mais tarde, iria se deparar com o momento em que o moreno objeto de sua extrema afeição talvez estivesse e/ou se demonstrasse interessado e/ou apaixonado por alguém. Ele tem um pouco de medo deste momento, mas espera que ele chegue logo, a fim de que ele possa lidar com isto. Porém, não é ciúme que ele sente".

É tudo FICÇÃO! (?)

WPC>