quarta-feira, 8 de abril de 2009

“SALIVA” (2007), DE ESMIR FILHO, E O FRACASSO DE MINHA VIDA OSCULAR


Conforme dito em várias ocasiões, está em cartaz, até o final deste mês, no Cinemark Jardins, a programação gratuita Curta Petrobrás às 18h – Sessão Descoberta, em que somos apresentados a três bons curtas-metragens recentes sobre os encantos e medos que permeiam contatos iniciais de adolescentes com o sexo, o amor e a responsabilidade social advinda do contato reiterado com as duas atividades anteriores. Evidentemente, tal assunto iria me encantar deveras e, previsivelmente, iria escrever algum texto confessatório aqui após a sessão. Faço, com atraso, em virtude de uma onda letárgica que me atingiu, mas... Estou de volta e, dentre os três filmes exibidos, quero destacar aqui algumas reverberações entre o curta-metragem que menos gostei dos três e a minha própria vida.

“Saliva” é um filme que vem chamando a atenção de todos os seus espectadores. Desde que eu soube desta programação de curtas-metragens, recebi inúmeras admoestações elogiosas de amigos que viram o filme antes de filme – e olha que nem todos sabiam de meu famoso “problema com beijos”! Vem-me agora linear básico: falo antes da sinopse do filme ou resumo logo o meu “problema”? Na dúvida, recorro á escrita automática:

“Saliva” fala sobre o medo desejoso (ou desejo amedrontado, melhor dizendo) que a garotinha de 12 anos (Mayara Comunale) nutre em relação ao primeiro beijo, que se torna cada vez mais e mais próximo, não necessariamente porque esteja apaixonada, mas porque todas as suas amiguinhas já beijaram repetidas vezes e ela passa a se sentir coagida a fazer isso também. Nesse sentido, ela e suas amigas treinam beijos em lâmpadas, braços, espelhos, bonecos, papel crepom, etc.. Passam o dia inteiro imaginando e reimaginando ósculos, até que acontece algo que, a fim de preservar o ineditismo narrativo de quem ainda vai ver o filme, omito agora, quando passo a falar de mim:

Como todos sabem, desde antes dos 5 anos de idade que conheço a aplicabilidade do sexo. Porém, foi somente aos 7 anos de idade que tencionei beijar alguém. Era uma moça chamada Sandra, que tinha 14 anos e usava meu corpo insipiente para diversões fetichistas. Já que meu pênis minúsculo era comumente introduzido em sua vagina abocanhadora (que, no futuro, tornar-se-ia famosa pelos 9 abortos que levou sua proprietária a cometer!), achava que seria um passo natural e contíguo beija-la na boca. Um dia, tentei. Ela era bem mais alta que eu, subi num saco de cimento e tentei grudar meus lábios em sua boca. Ela recusou veementemente. Percebi, então, que há uma diferença qualquer entre ambas as atividades. À medida que fui crescendo, e revigorando meus desejos, percebi que talvez tivesse uma necessidade inata de experimentar os beijos na boca que todos os meus parcos amigos e diversos espancadores gabavam-se de comemorar. Possuía cáries, porém, desfrutava de uma afetação homoerótica perceptível, causava repulsa nas pessoas. Nunca tive a oportunidade de testar.

Somente aos 21 anos de idade, numa brincadeira de “eu nunca”, vim a ter novamente a chance de praticar o assunto. Em dado momento, soltei a seguinte frase “eu nunca beijei na boca de ninguém”, o que fez todos os participantes da brincadeira abaixarem os dedos e eu ganhar a brincadeira e escolher a prenda aplicada aos perdedores. Entretanto, uma das pessoas que estavam brincando comigo (hoje, uma grande amiga, mas que estava conhecendo efetivamente neste dia) creu que eu não havia beijado ainda apenas mulheres e quis me beijar à força. Deitou-se em cima de mim, trancafiou-me numa sala e disse que só me liberaria quando eu pusesse a minha língua no interior de seu palato. Após muita resistência, desespero e relativa repulsa, o fiz. Não sei se um trauma foi quebrado ou nascido neste momento, mas o fiz!

Percebendo a minha angústia posterior, esta amiga (que, à época, era apenas uma conhecida, volto a dizer) achou que meu problema com beijos era somente com mulheres e tratou-me de arranjar um pseudo-namorado promíscuo após este evento. O mesmo problema com beijo manifestou-se, indo reverberar nos meus contatos com outras pessoas, de ambos e sexos, no futuro, até que, no final de 2006, fui a uma boate ‘gay’, repleta de adolescentes, e creio que interagi tranquilamente num beijo bucal pela primeira vez em minha vida – isto porque eu estava com raiva de algumas pessoas e senti-me vingado ao fazer isso comigo mesmo!

Arranjei outras pessoas que lidavam tranquilamente com beijos depois disso, mas eu sempre fui arredio. A fim de evitar questionamentos que possam me envergonhar, quando tocam no assunto, apenas digo que não gosto, que não tenho vontade, mas... Do fundo de minh’alma, eu não sei, juro que não sei... Mas é certeza que prefiro qualquer outra interação proto-sexual ao beijo, são mais acessíveis, me permitem sonhar mais... em outras palavras, portanto: vejam o filme do Esmir Filho!

Wesley PC>

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