quarta-feira, 8 de abril de 2009

AS PALAVRAS (NÃO) DITAS...


Sempre que me vejo num dilema em que a resolução do mesmo está na dicotomia falar X não falar algo, opto pela primeira opção. Em minha cabeça psicótica, defendo que lido melhor com as ações ditas que com as omissões preditas. Porém, à medida que este sofrido ano de 2009 passa, aprendo [visto que o sofrimento, antes de tudo, ensina] que algumas coisas ficam melhor quando ditas intimamente, em ambientes específicos, diante de ouvidos compreensivos e responsivos.


[Interrupção telefônica]


Aí eu durmo mais de 11 horas intermitentes, sonho com a mesma pessoa em diferentes contextos (num deles, divertindo-se com substâncias alucinógenas em frente a uma caixa-d’água de colégio. Acordo chateado (detesto dormir tanto) e ligo o rádio, recém-chegado do conserto. Pego um CD qualquer, de olhos fechados, e, de repente, me vejo ouvindo “Chega de Saudade”, na voz do João Gilberto...

Lembro que, num dos intervalos do largo sono de hoje, assisti a um filme que passava sempre no SBT, mas que, até então, nunca tinha visto: “Amores em Conflito” (1988), de um tal de Robert Greenwald. O filme é um daqueles típicos dramalhões norte-americanos sobre casais inexplicavelmente em crise. O casal em pauta, formado por Don Johnson e Susan Sarandon, admitem que se amam, mesmo brigando o tempo inteiro, quando percebem que qualquer coisa pode ser consertada, mas o que me interessou mesmo foi o comentário da amante desenvolta de um amigo do casal (vivido por Jeff Daniels), que, em dado momento, chega para ele e diz: “durante toda a minha vida, eu fui como um ônibus: os homens subiam em mim, percorriam um dado trajeto, e depois largavam, me deixando na estrada, percorrendo sozinha o caminho que eu devia percorrer”. O interessante é que ela não fala isso com mágoa, mas consciente de que esta é sua missão filantrópica de vida. Dar, sem esperar algo em troca. Agradecer, mesmo quando é julgada por ter se bronzeado nua num dia qualquer de juventude. Gostei muito da personagem vivida pela Elizabeth Perkins...

O que me leva ao trecho final desse texto sobre o que (não) deve ser dito: o mundo dá muitas voltas, todas as partes de nosso corpo podem ser canais expressivos, vermelho é minha cor favorita e o Perfeito é perfeito, infinitamente perfeito, conforme demonstrado pela imagem ultra-especular, que só faz masculinizar o objeto da letra da canção composta pelo Tom Jobim, excluindo obviamente os comentários imperiosos sobre ósculos, peixes e abraços um pouco mais apertados ao que posso me dar ao luxo...

“É só tristeza e melancolia, que não sai de mim, não sai de mim, não sai”...

Wesley PC>

Um comentário:

Fláviabin disse...

"dar sem querer nada em troca..."

Filantropia da vida... É uma boa pespectiva.