terça-feira, 7 de abril de 2009

“ARRANJEM-ME UMA GRAVATA AGORA – E QUE SEJA VERMELHA!”


Num raríssimo momento de “total entrega ao destino”, ontem eu perambulei pelo mundo sem fazer programas. Pela primeira vez em muito tempo, não sabia o que faria na hora seguinte, aceitando de bom grado as sugestões da pessoa que estava comigo. Foi estranho, foi diferente, foi bom.

Foi então que, assim sem perceber, me vi, de repente, dentro da sessão do filme “The Spirit – O Filme” (2008), sobre o qual não sabia muita coisa, exceto que fora dirigido pelo cultuado desenhista Frank Miller, que já encetara alguns passos co-directivos no ótimo “Sin City – A Cidade do Pecado” (2005), em que Robert Rodriguez e Quentin Tarantino ajudaram-no. Trabalhando sozinho, sobre um roteiro do desenhista igualmente cultuado Will Eisner, o resultado foi a caricatura crônica, o pasticho, a colagem de referências, o fim-de-mundo adolescente...

Do que se trata o filme? Vejamos: tem um herói-título (Gabriel Macht), ostensivamente andromaníaco, que se torna policial mesmo depois que o pai de sua amada é morto por uma briga acidental de bêbados, e, num episódio muito mal-contado, é também assassinado, mas seu corpo é encontrado por um cientista transtornado, que, ao acha-lo “perfeito” (!!!), ressuscita-o, mas não consegue impedir que Lorelei (Jaime King), “o anjo da morte”, continue aparecendo frequentemente diante dele, querendo leva-lo para outro mundo, convite erótico que ele nunca aceita “porque as mulheres do mundo precisam dele”. Além disso, seu ex-amor de adolescência (vivida por Eva Mendes), ambiciosa e ressentida como sempre foi, é agora uma traficante de relíquias e se envolve na caçada a um baú que supostamente contém o sangue do herói mitológico Herácles. Basicamente isto!

Além da confusão de estórias paralelas que compõem a trama, “The Spirit – O Filme” utiliza táticas gráficas consagradas em outros filmes, como a mixórdia de imagens estilizadas em preto-e-branco com seqüências parcialmente colorizadas e uma direção de fotografia (a cargo de Bill Pope) estilizada a ponto de fazer cair o queixo dos mais crédulos. Porém, o que mais me escandalizou no filme foi o seu estranho senso de humor pós-caricato, nonsense ao extremo, em que o vilão cita ovos de 10 em 10 segundos, seus ajudantes possuem nomes estampados nas camisas pretas (como Ethos, Pathos, Logos, Adios e Amigos) e as piadas envolvendo a promiscuidade altruísta do protagonista são sempre acompanhadas por uma trilha sonora com altos e baixos clicherosamente sensualizados, que culminam com a execução extremamente remixada de “Falling in Love Again (Can’t Help It)”, outrora eternizada por Marlene Dietrich, agora executada por Christina Aguilera, durante os créditos finais. Ri. Ri muito!

“Falling in love again , I never wanted to
What am I to do? I can’t help it!
Love has always been my game. Play it how I may!
I was made that way, I can’t help it”


Fiquei imaginando o que Rafael Coelho acharia de “The Spirit – O Filme” (2008, de Frank Miller), se estivesse na sessão conosco, já que não somente ele pensa “besteira” quando vê a Scarlett Johansson em cena como parece que aqueles diálogos foram escritos tendo em vista o seu constante estado de espírito lombrado. Incrível o quanto ri dos absurdos do filme, “como se eles fossem ovos”!

Wesley PC>

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