terça-feira, 3 de março de 2009

“TRATADO DE BABA E ETERNIDADE” (1951) Direção: Jean-Isidore Isou


É agonizante ver um filme que ninguém mais viu e que não sei se mais alguém terá curiosidade em ver, mas, na manhã de hoje, assisti a um daqueles pretensiosos filmes vanguardistas franceses, vinculado a um tal de movimento Letrista, que mistura Surrealismo, Situacionismo e Dadaísmo de qualquer forma, para demonstrar que alguns tipos de amores podem muito bem sucumbir à similaridade burguesa. Assim é “Tratado de Baba e Eternidade”, um filme cujo título tenta explicar o quão complicado é a distância visível entre “a poeira do discurso e o peso de seu poder”...

Possuo este filme numa cópia horrenda, legendada em inglês, em letras alvas, que volta e meia desaparecem em meio ao branco das imagens disformes, que, por outro lado, rendem espaço muitas vezes a poemas guturais, que parecem uma coleção de interjeições eslavas. Apesar do excessivo pedantismo de sua narração, este filme não é ruim, possui validade e o esquecimento a que foi relegado comprova que o diretor teve certo êxito em suas propostas involuntárias (pois o que ele queria, de verdade, era ser tão respeitado quanto Luis Buñuel ou Charles Chaplin no panteão dos grandes cineastas). A vanguarda mais efetiva, em minha opinião, é aquela que, depois de seus exageros ostensivos, consegue obnubilar-se, até ser resgatada pelos verdadeiros amantes. Nesse sentido, sou um amante de Jean-Isidore Isou.

Um dos aspectos que mais me incomodou no discurso fílmico é a propensão de seu autor a tachar quase todas as outras pessoas do mundo de “idiotas”. Em dado momento do filme, inclusive, ele adverte que vaias e assovios não serão mal-vistos enquanto recepção à sua obra de arte e que quem não gostasse do filme poderia muito bem quebrar as cadeiras do cinema em que estivesse sendo exibido. “Afinal de contas, as cadeiras não são minhas”... Isso me fez lembrar de uma reprimenda que ouvi (olha só, que surpresa!) de Marcos Vicente, que, num dia de domingo, disse que um dos meus maiores defeitos era chamar as pessoas de idiotas o tempo inteiro. “Eu?”, redargüi. “Sim, tu”, disse-me ele. Pensei no assunto e, desse dia em diante, sou muito cauteloso antes de adjetivar negativamente quem quer que seja... Espero, portanto, ter um dia a oportunidade de apresentar este filme ao moço que obseda meus pensamentos. Quem sabe o efeito também não será tão salvaguardador?

Wesley PC>

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