sábado, 7 de março de 2009

O PÁLIDO PONTO AZUL

Ao ver no album de JP uma foto da Terra, lembrei de um texto do Carl Sagan que está no seu livro O Pálido Ponto Azul (The Pale Blue Dot). Para mim este texto foi uma lição de humildade, desde então virou o meu “pai nosso”. A imagem abaixo foi de onde surgiu a idéia do livro. Foi tirada pela sonda Voyager, que ao romper os limites do Sistema Solar, a pedido do Sagan, foi virada para a direção da Terra e essa foi a imagem que ela tirou. Um pequeno pálido ponto azul atravessado por um raio de sol (efeito gerado pela lente da câmera). Vale dizer que a Voyager tornou-se a primeira nave interestelar da humanidade. Abaixo à imagem está o texto.



"(...) Nós podemos explicar o azul-pálido desse pequeno mundo que conhecemos muito bem. Se um cientista alienígena, recém-chegado às imediações de nosso Sistema Solar, poderia fidedignamente inferir oceanos, nuvens e uma atmosfera espessa, já não é tão certo. Netuno, por exemplo, é azul, mas por razões inteiramente diferentes. Desse ponto distante de observação, a Terra talvez não apresentasse nenhum interesse especial. Para nós, no entanto, ela é diferente. Olhem de novo para o ponto. É ali. É a nossa casa. Somos nós. Nesse ponto, todos aqueles que amamos, que conhecemos, de quem já ouvimos falar, todos os seres humanos que já existiram, vivem ou viveram as suas vidas. Toda a nossa mistura de alegria e sofrimento, todas as inúmeras religiões, ideologias e doutrinas econômicas, todos os caçadores e saqueadores, heróis e covardes, criadores e destruidores de civilizações, reis e camponeses, jovens casais apaixonados, pais e mães, todas as crianças, todos os inventores e exploradores, professores de moral, políticos corruptos, "superastros", "líderes supremos", todos os santos e pecadores da história de nossa espécie, ali - num grão de poeira suspenso num raio de sol. A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pensem nos rios de sangue derramados por todos os generais e imperadores para que, na glória do triunfo, pudessem ser os senhores momentâneos de uma fração desse ponto. Pensem nas crueldades infinitas cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes mal distinguíveis de algum outro canto, em seus freqüentes conflitos, em sua ânsia de recíproca destruição, em seus ódios ardentes. Nossas atitudes, nossa pretensa importância de que temos uma posição privilegiada no Universo, tudo isso é posto em dúvida por esse ponto de luz pálida. O nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, no meio de toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos. (...)"

Carl Sagan


Para quem puder ver no youtube, sugiro que assistam este video narrado pelo próprio Sagan.



Wendell Bigato
[Invasão nº3]

2 comentários:

Pseudokane3 disse...

Absolutamente compreensível o teu fascínio pelo Carl Seagan!

lembro que, em 1995, quando fui apresentado á Física pela primeira vez, a professora em questão me falou que, nesta Ciência, "tudo é uma questão de prespectiva"! O teu texto só me fez repensar nisso, se queremos enxergar aquilo que veneramos como um ponto ou como um mundo inteiro... Ambas as respostas estarão corretas, de acordo com um ãngulo que escolhermos... Grande arte a compreensão da Física!

E verei CONTATO um dia a teu lado... Ou eu não me chamo Wesley!

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Pseudokane3 disse...

E, olha só, imagens de O PROFISSIONAL (1994) , do Luc Besson, no vídeo! Que lindo...

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