sexta-feira, 13 de março de 2009

“EU SOU UM SOLITÁRIO DE DEUS!”


“Qualquer dia, cairá uma chuva forte, que vai lavar esta escória das ruas, vai levar embora todas estas putas, gigolôs, traficantes, viciados...”

Passamos a madrugada em companhia dos filmes de Martin Scorsese. Não do jeito reverencial que eu pretendia, mas de um jeito em que pelo menos 75% dos diálogos dos filmes pudessem ser aproveitados (o barulho e os inconvenientes do excesso de pessoas na primeira sessão do Cine-Gomorra incomodou-me mais do que nunca nesta última quinta-feira!). Em meio a estes 75% de aproveitamento fílmico, fui atingido por uma violenta melancolia mnemônica. Não sei quantas vezes eu já assisti ao magnânimo “Taxi Driver – Motorista de Táxi” (1976), mas, desta última vez, cercado pelos tipos de pessoas que o protagonista Travis Brickle desejava exterminar, fui tomado por um sentimento que, beirava o arrependimento. Motivo: há algum tempo atrás – e por muito tempo – fui tomado por pensamentos demiúrgicos mui semelhantes aos que acometiam o extraordinário personagem interpretado pro Robert De Niro. Vagando solitário pelas ruas, sem perspectivas (“apesar de aparentar experiência”, como bem notou Eduardo), Travis temia – e, como temia, como sentia nojo, desejava exterminar, achava que tinha este direito, pois era “o solitário de Deus”, como não tinha nada a perder, talvez não custasse a execução na Terra de uma operação de higiene moral. Como eu já cometi este mesmo erro! E quanto!

Vendo o filme no ambiente mais adequado possível (por vezes, diante da televisão, me sentia percorrendo os mesmos guetos imundos que o taxista do filme), constatei o quanto ainda tenho que aprender, o quanto ainda preciso me corrigir, o quanto ainda tenho que me vacinar em relação a esta mania terrível, involuntária e catolicamente incubada de julgar os outros. Em pensamento, eu julgo o tempo inteiro – e isso não me faz sentir confortável!

Seguindo em frente com a mini-maratona scorseseana, fomos apresentados a outros personagens do Robert De Niro, que novamente se via misturado à escória do mundo, que vivenciava o ciúme e o abandono. Se estes pareciam ter um mínimo direito à redenção, este vinha sempre na figura de uma mulher, por quem se apaixonavam e, por motivos variados, levavam tudo a perder, a um caos maior do que aquele em que se encontravam anteriormente. O amor não os redimiu, mas mostrou que era possível. Ao final dos filmes, os personagens tomam rumos diferentes: num, é validado moralmente, ao passo em que permanece imerso numa cadeia de preconceitos contraditórios; noutro, descobre a solidão incorrigível que advém da atitude de não confiar nos seus semelhantes; e, no terceiro, sofre na pela os efeitos justamente do excesso de confiança. Em suma, três obras-primas, que dizem muito sobre o que sou, sobre quem talvez eu não queira mais ser e, principalmente, sobre quem pode me ajudar nestes intentos de metamorfose personalística. E, por mais que um ou dois nomes morenos se destaquem neste processo, toda a Gomorra está envolvida e é, portanto, mais um agradecimento coletivo a estas pessoas que desejo fazer aqui:

OBRIGADO POR ERRAREM, OBRIGADO POR ME ACEITAREM, OBRIGADO POR SEREM SERES HUMANOS, ACIMA DE TUDO, DEMASIADO HUMANOS!

Wesley PC> (espelhando-se no banheiro que fica perto do DALH)

2 comentários:

Annita! disse...

Incrivelmente vc escreveu ao fim...
uma frase que por vezes eu disse. Estranho...mas, vc disse!
E..tvz vc seja "um louco de Deus"..ou não!

Pseudokane3 disse...

Nós dizemos, então...

Meu moralismo está voltando...

WPC>