segunda-feira, 9 de março de 2009

ENTRE A PIMBICE E A FALTA IDEALIZADA DE AFETO – Parte I: ‘Amor Omnia’


“Creio apenas nos prazeres da carne e na solidão incorrigível da Alma”

Hoje não falarei de casos isolados. Não escolherei a sublime e inadjetivável Ayalla como exemplo de uma pessoa em que “ter conotação sexual em tudo o que se fala não é uma escolha”. Ao invés disso, perguntarei por que os grandes artistas insistem em falar de amor em suas obras? Mesmo gente considerada demasiado madura, satírica e/ou anticomercial insiste em cantar sobre se tema (o nome de Frank Zappa vem-me de imediato à mente). Porém, como Cinema é a arte que eu suponho ou desejo conhecer, é dela que extrairei meus exemplos:

Não é sobre a grandiosidade e impossibilidade de realização amorosa que o iconoclasta Jean-Luc Godard estava falando quando faz com que Jean-Paul Belmondo envolva sua cabeça com quilos e mais quilos de dinamite para que uma explosão o faça esquecer da morte de sua amada, vivida pela enigmática Anna Karina? Tudo o que o magnata vivido e dirigido por Orson Welles precisava não era de um pouco de amor sincero? Não é o desperdício do amor que faz com que Takashi Shimura perceba que pode legar algum sentido à sua vida burocrática quando se percebe acometido por uma doença letal numa obra-prima de Akira Kurosawa? Não é o amor irrestrito pelas diversas ramificações de sua família que faz com que Gary Cooper desista de se matar no maior clássico de Frank Capra? Se não publico aqui os títulos dos filmes descritos é para que eu não estrague o prazer (amoroso) de quem ainda não se deliciou com estas verdadeiras jóias da sétima arte.

Mas prometi escolher um exemplo e é na personagem que pronunciou as palavras que serviram de epitáfio a este texto que eu encontro a minha vítima/algoz: Gertrud, personagem-título do derradeiro filme do gênio Carl Theodor Dreyer, o “cineasta dinamarquês da brancura e da beleza interior”, realizado em 1964. Nesta preciosidade contida em celulóide, a protagonista (vivida com graça inaudita por Nina Pens Rode) rejeita três pretendentes ultra-apaixonados por considerar que nenhum deles seria capaz de abandonar tudo para dedicar-se a um romance. Termina seus dias sozinha, conforme previra, velha, celibatária, sofrida, repetindo em frente a um espelho palavras que agora repito, enquanto me preparo para escrever a segunda parte desse clamor escrito:

“Olhem para mim: pareço bela?
Não, mas amei.

Olhem para mim: pareço jovem?
Não, mas amei.

Olhem para mim: pareço viva?
Não, mas amei”


Faço minhas as suas perguntas e réplicas.

Wesley PC>

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