sábado, 7 de março de 2009

“DISTANTE” (2002), de Nuri Bilge Ceylan


Sim, eu sei, a imagem parece bastante um daqueles cartões de auto-ajuda, tipo: “fique bem. A vida parece estar te dando uma rasteira agora, mas depois tu terás muitas oportunidades de dar a volta por cima”. Mas não é, parece, mas não é só isso! Trata-se de uma das imagens finais do filme turco “Distante”, a que acabo de ver e me surpreender.

Pouca coisa eu sabia deste filme, além de que ele havia recebido a Palma de Ouro de Melhor Direção no Festival de Cannes em 2002 e que figura na página 908 da bíblia intitulada “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer”. Vendo-o hoje, encontro uma história tragicômica sobre dois amigos que se encontram depois de muito tempo. Eles viviam no mesmo povoado no interior da Turquia. Um deles emigra na frente e arranja trabalho como fotógrafo. O outro emigra depois e tenta arranjar trabalho num barco. Não consegue. O restante do filme, portanto, é focado nas divergências de convivências entre os dois, o que me fez pensar demais em Gomorra, visto que situações similares já aconteceram lá, me envolvendo, aliás. Destaco duas situações:

- Em dado momento, os dois amigos estão na sala, vendo um filme existencialista e lento do russo Andrei Tarkovsky. Quando um deles se cansa do filme, o outro logo se prontifica a pôr uma fita pornográfica no videocassete e fazer o que acompanha este tipo de audiência. O desempregado volta de supetão e flagra-o com as calças arriadas. Envergonhado, resta-lhe mudar o canal rapidamente e deixar a TV num programa qualquer. O desempregado, porém, não percebe que está sendo inconveniente e fica em pé, atrás do fotógrafo, visivelmente irritado e querendo encerrar a masturbação. Ele, então, retruca: “está muito tarde, é hora de desligar a televisão” (risos).

- A segunda cena digna de menção pessoal é quando o desempregado acorda com um chiado, que parece de um rato moribundo. Levanta e depara-se com um roedor com o corpo dilacerado por uma ratoeira, gemendo de dor. O fotógrafo também acorda e ambos ficam contemplando, inertes, esta imagem cruel. Um deles se pronuncia: “coloque-o numa sacola e jogue-o no lixo, senão ele vai ficar chiando a noite inteira”. O desempregado o faz e, quando vai pôr o lixo fora, percebe vários gatos cercando a lixeira. Ele tenta abrir a sacola rapidamente e disponibilizar o cadáver do rato para os felinos, que correm, assustados.

Grande sensibilidade turca, grande filme!

Wesley PC>

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