terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

SENTIMENTO GREGÁRIO


Um dos argumentos mais fortes (e verdadeiros) que utilizei para implorar uma reconciliação com Marcos desta última vez foi o de que precisava muito de Gomorra e de que não me sentiria tranqüilo se me comportasse sempre muito contente e eufórico com meus amigos e fosse obrigado a me mostrar como legitimamente taciturno quando estivesse a seu lado. Por mais mascarado que eu seja, não consigo ter duas caras! (risos)

Que seja! Fiquei repetindo para ele que nunca havia experimentado o senso gregário de comunidade que vivencio diuturnamente em Gomorra, que nunca tive tantos amigos (no plano quantitativo), principalmente que lidem tão bem com suas idiossincrasias personalísticas sem apelarem para uma homogeneização forçada.

Hoje pela manhã, vi mais um aguardado filme de meu cineasta hebefílico favorito, Larry Clark, responsável por pérolas como “Kids” (1995) e “Ken Park” (2002). Quem conhece este cineasta, sabe que suas principais obsessões são o sexo, a violência e as drogas consumidas por adolescentes, que são sempre mostrados de maneira muito crua, voyeurística, quase beirando o criminal, do jeito que gosto, realçando o poder dos instintos!

Não foi diferente em “Wassup Rockers” (2005). Por mais que, aparentemente, o foco do roteiro difira um pouco do imediatismo de suas obras anteriores, o tom conteudístico é o mesmo: jovens querem se divertir, caminham para isto, encontram problemas com a polícia e jovens de grupos rivais... A grande diferença está no grupo escolhido como protagonista: um amontoado de skatistas salvadorenhos, liderados por um guatemalteco de 14 anos que se comprova avassaladoramente sensual. Eles moram no bairro South Central, gueto estadunidense onde moram as comunidades negras e latinas, mas resolvem passar uma tarde em Beverly Hills, aproveitando as ladeiras e grades do local. São molestados por um policial racista e aliciados sexualmente por duas meninas riquíssimas e por um homossexual viciado na cor rosa. Em dado momento do filme, alguém pergunta a um deles, que só andam juntos: “vocês são melhores amigos?”.

A resposta me fez pensar bastante em Gomorra, principalmente em Rafael Torres, que investe num tratamento homogêneo para todos os amigos: “não, não somos melhores amigos. Somos iguais. Diferentes, mas iguais. Somos os únicos, temos coisas em comum e andamos sempre juntos. Não dá tempo para ficar elegendo melhores amigos”. Pois bem, em Gomorra, eu me sinto justamente isso: “diferente, mas igual”!

Wesley PC>

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