sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

"Saiam dos banheiros, vão para as ruas" (Rosa von Praunheim)

homenagem a um gay: rosa von praunheim

Muito teve de ser feito para que pessoas, públicas ou não, não temessem assumir abertamente sua homossexualidade. Na Alemanha, o cineasta Rosa von Praunheim, principal ativista do movimento de libertação homossexual alemão é um dos principais responsáveis pela atual liberdade.

Rosa von Praunheim, cujo verdadeiro nome é Holger Bernhard Bruno Mischwitzky, nasceu em 25 de novembro de 1942, em Riga, Letônia, durante a ocupação alemã. Seu nome artístico advém do ‘triângulo rosa’ dos homossexuais nos campos de concentração nazistas, e de Praunheim, bairro de Frankfurt onde cresceu. Após abandonar o curso de pintura da Escola Superior das Artes, em Berlim, Von Praunheim iniciou sua carreira de cineasta, no final dos anos de 1960.

Em 40 anos de atividades, Von Praunheim dirigiu, entre documentários e filmes de ficção, cerca de 70 produções. Ele mesmo se considera ‘um dos cineastas gays mais produtivos do planeta’. Como ativista, o diretor provocou escândalo ao lançar seu semi-documentário ‘Nicht der Homosexuelle ist pervers, sondern die Situation in der er lebt’ (Não é o homossexual que é perverso, mas a situação em que ele vive).

Rosa von Praunheim sempre foi um provocador. ‘Saiam dos banheiros, vão para as ruas’ era a mensagem do filme que acusava os gays de passividade política numa sociedade homofóbica, de se contentar com a triste vida de bares proibidos e sexo às escondidas em banheiros públicos. O filme foi lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em 1971. Durante sua transmissão pela TV pública ARD, em 1973, a televisão da Baviera saiu do ar. Von Praunheim não atacava apenas a sociedade alemã, que no ano anterior anulara o parágrafo do Código Civil de 1872 que proibia relações sexuais entre o mesmo sexo. O principal alvo do diretor eram os próprios homossexuais.

Depois do filme de Von Praunheim que afirmava que ‘gays não querem ser gays, mas querem ter uma vida pequeno-burguesa e viver como cidadãos medianos, e que sua passividade política é agradecimento ao fato de não serem mortos’, cerca de 50 grupos ativistas gays foram criados no país.


Durante os anos de 1980 e 1990, Von Praunheim dedicou-se ao combate à discriminação dos portadores de aids. Em 1991, no auge da crise da doença, o cineasta provocou o furor de vários homossexuais por ter declarado, em programa da rede privada de televisão RTL, que dois dos principais apresentadores da televisão alemã, Alfred Biolek e Hape Kerkeling, eram gays e tinham a obrigação de se engajar na conscientização sobre a doença. O argumento de Von Praunheim para o outing de personalidades gays foi: ‘Ser gay e lésbica não será uma questão de cunho privado enquanto formos expulsos, devido à nossa homossexualidade, de nossos empregos e moradias’.

Von Praunheim se dedicou desde cedo à difusão do sexo seguro, chamando até mesmo seus opositores de ‘assassinos’ e angariando vários inimigos na cena homossexual, cujo estilo de vida combatia – um paradoxo, já que o próprio Von Praunheim se considera ‘promíscuo’, apesar de viver com seu companheiro Mike Shepard já há 30 anos.

Oscilando entre o kitsch e o político, o trabalho cinematográfico de Von Praunheim trata de gays, divas, mulheres fortes, homossexuais corajosos, transexuais, estrelas pornôs e temas como radicalismo de direita e luta contra a aids. Seus documentários são seus pontos fortes. Seus filmes de baixo orçamento convencem e suas provocações recebem os mais diversos elogios. ‘Certo, útil e necessário’, afirma, por exemplo, o diário ‘Frankfurter Allgemeine Zeitung’.


O provocador Von Praunheim não lutou somente pela liberdade sexual entre gays e lésbicas, mas por seu engajamento político e por sua solidariedade como cidadãos. ‘Lutamos por algo mais que 700 bares de sexo’, afirma um americano no filme ‘Armee der Liebenden oder Aufstand der Perversen’ (Exército dos Amantes ou a Revolta dos Perversos) (1979), sobre os movimentos de libertação nos EUA. O amor livre se impôs, a solidariedade não, reclama o diretor. ‘Ich bin meine eigene Frau’ (Eu sou minha própria mulher) (1992), é sobre a vida do travesti da antiga Alemanha Oriental Charlotte von Mahlsdorf. (sobre ela postei aqui)

Em ‘Schwein gehabt – Joe Luga’ (Joe Luga teve sorte), Von Praunheim conta a história do cantor Joe Luga, que fazia shows travestido de mulher para os soldados alemães da frente russa. Somente após a guerra, nos anos de 1950 e 1960, sua homossexualidade o levou às prisões da antiga Alemanha Ocidental. Mas é no longo documentário ‘Männer, Helden, Schwule Nazis’ (Homens, heróis, gays nazistas), disponível desde o ano passado em DVD, que o diretor aborda a paradoxal relação entre a homossexualidade e as idéias do radicalismo de direita, cuja estética está cada vez mais presente na cena gay atual.

Somente em 2000 sua mãe confessou, aos 94 anos, que o diretor era adotado. Ela viveu, com o filho, os seus dez últimos anos de vida, até morrer em 2003. Após longas pesquisas, Von Praunheim descobriu que nasceu na Prisão Central de Riga e que sua mãe biológica faleceu num hospital psiquiátrico em 1946. (por: carlos albuquerque)

postado por mara

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Disponível em http://fazendoestrelas.blogspot.com/2008/12/homenagem-um-gay-rosa-von-praunheim.html, acesso em 20.02.09

feop

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