quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PERPLEXIDADE, APÓS UM TELEFONEMA


Muitas situações diferentes podem ocorrer numa mesma jornada de 24 horas. Tragédias, comédias, situações aparentemente sem importância... Todas elas contribuem para que, em dados momentos, sejamos obrigados a modificar planos tão minuciosamente organizados. Não é assim?

Acaba de ocorrer uma destas situações comigo: vi um filme que só vim a conhecer no ano passado. Vi-o pela primeira vez, ao lado de minha mãe, e, com a genial e sofrida trilha sonora de Narciso Yepes ainda retumbando em meus ouvidos, preciso levar um filme não-programado a Gomorra, nesta noite de quinta-feira: “Brinquedo Proibido” (1952, de René Clement).


R
aras vezes um filme ainda não-visto conseguiu arrancar de mim a comoção que este filme agora provoca. Partindo de um argumento bastante simples, o roteirista François Boyer (também autor do livro em que o filme foi baseado) engendrou uma das estórias mais geniais contra as influências malévolas da guerra em pessoas simples e, dentre estas, nas mais simples delas: as crianças.

Como é bem sabido pelo senso comum, crianças necessitam imitar os adultos a fim de se encontrarem no mundo. E, quando os adultos que a circundam dão maus exemplos seguidos, estes serão os comportamentos que elas irão adquirir – por mais que os mesmos estejam disfarçados de posturas religiosas.

O que acontece no filme ora elogiado é particularmente desolador: uma menina perde os pais num bombardeio e, fugindo com um cachorro morto nas mãos, vai parar na fazenda de um invejoso camponês. Lá, ela conhece um garoto, que a ensina os esboços da hipocrisia religiosa e desenvolve um estranho fascínio por cruzes, sentindo a necessidade de enterrar todos os seres mortos que encontram ao seu redor. Terrível!

Segue-se uma trajetória de malefícios cotidianos, de punições, de mentiras, de maldades apresentadas e cometidas com a maior naturalidade do mundo, transformadas em armas sobrevivenciais. Segue-se a dor, em seu estágio máximo, repugnante e, para nosso completo estupor, naturalizado. Fiquei completamente desolado frente á beleza deste filme perfeito, que levei 27 anos para ser apresentado. Ainda assim, não conseguia tirar de minha mente a pessoa encantatória cujo nome pode ser formado com base nas letras iniciais de cada um destes parágrafos...

Wesley PC>

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