sábado, 13 de dezembro de 2008

REABILITAÇÃO


Na próxima quinta-feira, dia da Gomorra Secreta, Charlisson quer que exibamos apenas filmes tristes. Ou seja, pagaremos a nossa dívida com o maravilhoso filme de Alan Parker sobre o Pink Floyd, porei uns 8 ou 9 para chorar graças a um filme do Lars Von Trier protagonizado pela Björk e, se der tempo, acho que “O Beijo Amargo” (1964, de Sam Fuller) é uma boba pedida, pois é o melhor sobre reabilitação que já vi na vida – e é de reabilitação que eu preciso agora, pois me sinto culpado sem crer que cometi crime nenhum...

Não queria adiantar muita coisa sobre a trama, mas digamos que esta mulher careca da foto (primeira cena do filme, absolutamente ímpar e genial!) é uma prostituta, que vive dependente de gigolôs toxicômanos e, após ser abandonada e roubada por um deles, resolve mudar de cidade e começar nova vida como enfermeira num hospital para crianças com câncer terminal. Ela passa a amar a nova ocupação (orquestra um número musical engendrado por infantes aleijados que partirá o coração de qualquer espectador!), mas o passado volta à tona, ah, ele sempre volta! E isto me faz lembrar algo muito triste de que participei ontem:

Como todos sabem, mesmo sem dormir um segundo na madrugada anterior, passei 10 horas intermitentes trabalhando com a análise da documentação dos aprovados no Vestibular à Distância de cidades do interior do Estado. Um dos documentos exigidos é o comprovante de votação ou um equivalente Certificado de Quitação Eleitoral, que pode ser adquirido facilmente na Internet. Lá pelas 16 horas, quase no finalzinho do expediente, atendi a um rapaz com cara de poucos amigos. Fui conferindo seus documentos (ele passara para o curso Geografia no pólo de Arauá) e, aparentemente, estava tudo em ordem. Até chegar no seu Certificado de Quitação Eleitoral, onde se lia: O ELEITOR NÃO ESTÁ QUITE COM A JUSTIÇA ELEITORAL EM VIRTUDE DE SUSPENSÃO DO TÍTULO DE ELEITOR (CONDENAÇÃO CRIMINAL). Nunca havia visto tal informação na vida e perguntei ao rapaz do que se tratava. Ele respondeu, com um tom mais do que intimidador: “é que eu fui preso por porte ilegal de armas”. Conclusão: não pude realizar a matrícula dele, o que o deixou furioso, possesso de cólera, esbravejando, atirando todos os seus documentos no chão, etc.. Mas foi embora, triste, arrasado, coitado... Por que peste, então, iludiram este coitado deste menino, deixando ele estudar para o Vestibular, mesmo apresentando documentos irregulares e irremediáveis de antemão? Fiquei irritadíssimo com o Sistema no qual me inseria...

Duas horas depois, o rapaz volta, ainda mais irritado e ameaçador, gritando com minha chefe: “tu vais ter que fazer a minha matrícula. Foi o Juiz quem mandou!”. Mentira! Foi o próprio Juiz Eleitoral quem o enganou, entregando um documento paliativo que não atende a uma exigência básica do Edital de Vestibular a que ele se submeteu. Fiquei mais irritado ainda. O menino idem. Ameaçou-nos mais e mais. Assustados, os funcionários do DAA trancaram as portas naquele momento, às 19h! Um clima de tensão e medo permeava o recinto. Todos estavam apavorados, enquanto eu me preocupava com as ilusões desfeitas daquele jovem, que foi orientado a abrir um processo contra a Justiça Eleitoral. Mas quem disse que ele vai obter êxito em sua reivindicação? É fogo! Isso é que dá se submeter a leis que se dizem democráticas...

...e que venha a quinta-feira da Gomorra Secreta e dos filmes tristes!
Wesley PC>

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