terça-feira, 9 de dezembro de 2008

QUEM LEU O LIVRO, RECONHECE A PÁGINA!


Desde que eu entrei na Universidade (no ano 2000, para ser exato) que me era recomendada a leitura urgente de “A Casa dos Budas Ditosos”, romance-depoimento que João Ubaldo Ribeiro lançou em 1999, como parte da série “Plenos Pecados”, da editora Objetiva. Na época, eu desdenhava do interesse que o livro causava em meus amigos. Achava que a sensualidade do mesmo era forçada, que só me recomendavam porque não entendiam a contento a minha própria devassidão...

Oito anos se passaram e, depois de várias recomendações confiáveis, resolvi ler o tal livro. Para minha surpresa, estou gostando muito. Não porque o livro seja sensual ou lascivo (apesar de esta ser a intenção principal do mesmo, como diz a instancia narradora, identificada pelas iniciais CLB), mas porque ele me decifra! Decifra o meu modo de pensar e enxergar o mundo e me consola acerca das decepções inevitáveis quando se começa a freqüentar locais de suposta devassidão ostensiva. A personagem fala diretamente para mim, leitor, parece que me conhece. Quando li esta página que escaneei (97), gemi de gozo e prazer mental. Agora sim, o livro é para mim!

O que mais acho interessante no texto – para além do caráter sabiamente dialógico do mesmo – são as reflexões da personagem principal acerca do amor. Afinal de contas, ela é lasciva, mas não impositiva. Se ela tem tantas estórias para contar, é porque sabe o que são sentimentos, se ela se atreve a dizer que “a paixão é apenas a tesão formatada” (p. 153) é porque ela conhece ambas as definições e me ajuda bastante ao dividir comigo tais descobertas...

Gosto quando faz afirmações acerca da bissexualidade inata (se bem aproveitada) de cada indivíduo, gosto quando ela narra o oceano de prazer que ela vivenciou ao lado do irmão Rodolfo, gosto quando imagino a patrona Norma Lúcia fodendo com jegues e cavalos (coisa que CLB ainda não sentiu vontade de fazer, aos 68 anos de idade, mas nem por isso a incomoda: desejo sexual não pode ser forçado), gosto do livro como um todo... Falta apenas um capítulo para que eu encerre a leitura do mesmo e, puxa, está me sendo balsâmico nesta crise “marquiana”, bem como está me ajudando a matar as saudades de Anne Kelly, cujo modo de falar assemelha-se por demais ao da protagonista. É um livro que está me re-curando!

“Não se pode estar apaixonado por duas pessoas ao mesmo tempo, meu Deus, quanta gente morreu e morre todos os dias pro causa desse dogma babaca, que é tão arraigado que a pessoa, homem e principalmente, mulher, que está ou é apaixonada por dois ou três entra em conflitos cavernosíssimos, se remói de culpa, se acha um degenerado, não confessa o que sente nem às paredes, impõe-se falsíssimos dilemas, se tortura, é uma situação infernal e cancerígena, todo mundo lutando estupidamente para ser quixotes e dulcinéas. É o atraso, o atraso! Em tese, somos capazes de nos apaixonar por tantas pessoas quantas sejamos capazes de lembrar, o limite é este, não um ou dois, ou três, ou quatro, ou cinco, ou dezessete, todos esses números são arbitrários, tirânicos e opressores”. (p. 151)

Ok, então, concordo.

Wesley PC>

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