domingo, 21 de dezembro de 2008

“QUAL A PAZ QUE EU NÃO QUERO CONSERVAR PRA TENTAR SER FELIZ?”


Não gosto muito do rumo que a carreira neo-populista do grupo O Rappa vem seguindo, mas gosto muito do que ouço em “Lado A, Lado B” (1999), disco que me senti violentamente compelido a ouvi desde que cheguei da festa muito ruim a que fui ontem... Muito ruim talvez seja um julgamento precipitado, que seja! Não estava com vontade de ir, tinha maus pressentimentos, que se confirmaram de forma piorada. Voltemos ao álbum:

Logo no começo, “Tribunal de Rua”, uma faixa-revolta de primeira qualidade, a música que mais reverberou em minha mente na tal festa, não conseguia tirar aquele “peita, peita, peita” da minha mente, enquanto eu ficava tentando me concentrar nas pessoas não-gomorrentas da festa, mas, puxa, achava todo mundo tão feio, ou, quando achava as pessoas bonitas, tão estéreis, tão incapazes de desfilarem a placidez mauriciana pela casa (recuso-me a admitir que estou obcecado ainda!):

“Era só mais uma dura
Resquício de ditadura
Mostrando a mentalidade
De quem se sente autoridade
Nesse tribunal de rua”


Fiquei sentado na janela, tentando achar uma música que me agradasse e voltasse à festa, respondendo aos carinhos de Lucas Cobra, à atenção verbal de João Paulo, às polêmicas de Ferreirinha, que me fez mijar em sua frente duas vezes...

Faixa 2: “Me Deixa”, tudo a ver com Rafael Coelho, que está de férias, uma canção que eu não gostava por achar muito ‘pop’, mas, sempre que ia para o trabalho e ela aparecia nos meus ouvidos, que vontade de voltar para casa, de ser capaz de mentir, de abandonar toda aquela sujeição pequeno-burguesa (ai, ai...). E eles dois vão viajar na terça, só vão voltar ano que vem... Coelho e sua voz terna, Maurício e sua perfeição ambulante...

“Eu ia explodir, eu ia explodir
Mas eles não vão ver os meus pedaços por aí
Eu ia explodir, eu ia explodir
Mas eles não vão ver os meus pedaços por aí”


Faixa 3: “Cristo e Oxalá”, mais divertida, mais polivocal, mais previsível... Escuto pouco, se bem que gosto muito do verso responsivo “minha fé, minha cultura”...

Faixa 4: “O que Sobrou do Céu”. Ótima! Tudo a ver com o momento, com uma festa de Biologia em que se faz churrasco na madrugada, em que meninos que se divertiam com maconha são obrigados a parar porque havia um carro de polícia na entrada...

“O chá pra curar esta azia
Um bom chá pra curar esta azia
Todas as ciências de baixa tecnologia
Todas as cores escondidas nas nuvens da rotina”


Um videoclipe, uma letra subjetiva muito direta, sempre peito esta faixa, sempre penso um pouco mais nela. Aí eu ficava pensando: “já que estou aqui nesta bendita desta festa, acho que não cometerei nenhuma heresia se deixar claro que não estou me divertindo...” Depois eu fiquei me questionando acerca do que seria o próprio ato de se divertir... Vi Rafael Maurício passeando pelas localidades com óculos escuros maiores que sua testa e ri... “Oh, Deus, lindo, lindo!”. Mas não queria monopolizá-lo não, voltei a procurar as pessoas bonitas e não-estéreis da festa. Gostei do modo como o vocalista da Cabedal cantava. Tão sorridente... Tão entrosado... Uma camisa tão verde...

Faixa 5: “Se Não Avisar, o Bicho Pega”, narrativa demais, ao menos explica a capa do CD (risos), ma sé bacana, é dançante. Na faixa 6, é que a porca da Perfeição torce o rabo, com “Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero)”, que, por mais que tenha se desgastado ao longo dos anos, permanece egrégia, íntima, do tipo de canção que eu canto com uma lágrima no canto de olho...

“Me abrace e me dê um beijo
Faça um filho comigo
Mas não me deixe sentar na poltrona num dia de domingo
(Domingo!)...”


E foram lágrimas o que mais vi nesta festa: lágrimas justas, lágrimas injustas, lágrimas ruidosas, lágrimas de aniversariante, lágrimas que não me fizeram bem e são delas que falarei depois, quando tiver processado todas as informações... Interrompo até o comentário sobre o álbum, deixando de falar o quanto gosto da faixa 8, “Favela”, por exemplo, mas... como diz a letra, “faltou luz, mas era dia”...

“Procurando novas drogas de aluguel
Neste vídeo coagido
É pela paz
Que eu não quero seguir admitindo...”


E a execução do álbum termina e eu fico repetindo, repetindo...

Wesley PC>

Um comentário:

Gomorra disse...

Pois é Wesley, lágrimas que me fizeram bem, e ao mesmo tempo muito mal...