sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A IMPERFEITA PERFEIÇÃO


Existem pessoas e artistas que, por beirarem a perfeição, dão a impressão de serem indignos de qualquer correção, de qualquer admoestação, de qualquer observação corretiva sobre seus trabalhos e atitudes. Estando nós, espectadores e observadores deslumbrados com a simples existência sublime dos mesmos, torna-se difícil que emitamos necessários juízos críticos acerca dos mesmos, o que é ruim. Críticas podem ser muito construtivas, até mesmo para o que já aparenta a perfeição. Rafael Maurício e Tom Zé são dois destes serem que beiram a tal perfeição...

Na última quarta-feira, tive a honra de assistir pessoalmente pela segunda vez a um concerto do egrégio artista brasileiro Tom Zé. Mas houve um porém: não gostei o suficientemente de seu último álbum, “Estudando a Bossa” (2008), que ostenta um primoroso trabalho de pesquisa sobre este movimento musical que tão bem projetou o nosso país internacionalmente. O problema é que, por achar que não gosto bastante da Bossa Nova, não me diverti muito além da satisfação enciclopédica ao ouvir o disco, por enquanto... Como o concerto foi baseado primordialmente em tal álbum, não gostei tanto do ‘show’ como era de se esperar de algo proveniente do gênio absoluto que é Tom Zé. Mas, para além de qualquer decepção, o espetáculo foi fantástico! Gênio que é gênio sempre consegue nos hipnotizar...

Atingindo êxito encantatório na execução de todas as canções de álbuns anteriores (o conhecido jogo de luzes na divina “Brigitte Bardot” é eternamente incrível!), Tom Zé dota de mais encanto e validade sarcástica as suas canções, de maneira que faixas como “Outra Insensatez, Poe!”, “Brazil, Capital Buenos Aires” e “O Céu Desabou”, os melhores momentos deste novo álbum, ficaram ainda mais interessantes ao vivo, quando acompanhadas pelos gritos singulares e pelas observações muito inteligentes do gênio de Irará.

Tem como não se gostar de algo de Tom Zé? Se eu fiquei um tanto chateado com o ‘show’, acho que a culpa foi mais da tietagem indiscriminada da platéia, que batia palmas até mesmo quando ele espirrava. Mas, que se dane! O cara é foda! – que nem o menino da foto, mostrado num momento de gozo musical que inebria qualquer criatura possuidora de olhos neste mundo maravilhoso que nos permite perceber que, tal qual escreveu Ingmar Bergman para o roteiro de seu fabuloso filme “O Sétimo Selo” (1957), “se tudo é imperfeito neste mundo imperfeito, só o amor é perfeito em sua perfeita imperfeição”. Está explicado por que não me privo de tachar o guri extático da foto de “perfeito”? Ele é!

Wesley PC>

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